quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Maçonaria é uma religião?

por Carlos Alberto Carvalho Pires
cacpires@gmail.com

A Maçonaria é uma religião? Esta é uma das perguntas mais comuns e inquietantes que se apresentam quando pensamos o fenômeno maçônico no contexto da religiosidade humana. Muitos respondem que não, alegando desde resoluções regulamentares a conceitos esotéricos ancestrais para justificar este posicionamento. Outros acham que “a Maçonaria é uma religião no sentido estrito, pois busca a harmonização da criatura com o criador” (CAMINO, 2006).
Em face desta situação de aparente conflito, e como somos legítimos especuladores da verdade, percebemos que esta questão merece uma atenção diferenciada. A complexidade aqui presente envolve, essencialmente, alguns dos principais valores da Arte Real e nos convida a refletir sobre todos os elementos que interagem neste processo. Este é o objetivo deste breve exercício reflexivo, traçado na peça de arquitetura que se segue. Em suma, estaremos tateando sutilmente o fascinante mundo das relações alquímicas existentes entre a Maçonaria e a fé.

1-A MAÇONARIA

Desde os ritos primordiais na África paleolítica e muito antes das celebrações dionisíacas da Grécia pré-socrática, quando não havia templos nem obras imponentes para que fossem elaboradas as inquietações mais inebriantes de nossas almas, aprendemos que nossas mentes criativas podem nos levar para muito além do que chamamos cartesianamente de universo lógico. Essas jornadas simbólicas se manifestavam no simples fato de desenhar no solo um círculo ou um pavimento mosaico rudimentar, de acender uma fogueira com a fumaça funcionando como incenso primitivo ou de colocar todos em volta formando um círculo. Dessas pulsões elementares surgiram todas as tradições esotéricas, com nossa Sublime Ordem.
Definir o que é a Maçonaria, no sentido ontológico ou epistemológico, é indubitavelmente um complexo exercício criativo. Todos que se atém a esta intrigante questão são capazes de manifestar diversas interpretações para explicar este fenômeno social, psicológico e metafísico surgido em tempos imemoriais.
Assim como os incontáveis mistérios que pavimentam o universo de símbolos e arquétipos mais elementares, a busca pela verdade sobre “o que é” nossa Ordem – como perguntaria Parmênides (530 a 470 a.C.) – escrutina na prancheta do entendimento humano linhas tortuosas que podem confundir as mentes mais argutas.
Em nossos documentos históricos e regulamentares, elaborados pelos grandes sábios do passado, existem explicações consistentes sobre o conceito de Maçonaria. Mas, isto pode não bastar. Os pensadores mais reflexivos, possuidores de mentes inquietas, sabem que há algo mais. Este teor que vai além do universo tangível é totalmente inacessível a toda forma de especulação e por isso mesmo fascina e assombra nossas almas desde os primórdios. Trata-se da própria espiritualidade humana manifestada por simbolismos complexamente elaborados.
Buscamos um sentido para nossa Fraternidade de várias maneiras, seja nas metáforas pré-históricas contidas nos rituais estilizados perpetuados nas pinturas rupestres, seja nas tradições da tragédia, do teatro e da filosófica grega clássica, ou nas manifestações de fé nos templos incipientes do crescente fértil. Esta jornada de procura do real conhecimento opera desde o inicio dos tempos e nunca se extinguirá, mesmo depois que desapareça o último homem, ou após o advento do além-do-homem, como diria Nietzsche (1844 a 1900).

2-O CONCEITO DE RELIGIÃO

Religião é um termo derivado do latim religio, que significa na tradição antiga algo como manifestar um comportamento rígido, formal e pautado pela precisão. Assim era o seu sentido no mundo pré-cristão, notadamente na Grécia e em Roma.
Em 45 d.C., na obra De Natura Deorum, Marco Túlio Cícero (106 a 43 a.C.) considerava o termo religião uma alusão ao ato de reler ou estudar de novo alguma coisa. Explicava, então, que os religiosos eram aqueles que pretendiam uma releitura das escrituras e dos ensinamentos primordiais que trariam luz sobre os fenômenos inexplicáveis.
Agostinho de Hipona (354 a 430 d.C.), ainda no século IV d.C. dizia que a religião seria a vontade de todos de reeleger a Divindade como centro do universo, uma vez que a humanidade se desligou de Deus. No livro A Cidade de Deus considera a palavra religere como sendo a raiz etimológica de religião.
Nos anos 400 d.C. Flavius Macrobius Ambrosius Theodosius, nascido no ano 370, afirmava que religio seria uma forma de se cultuar as relíquias do passado, ou relinquere.
No Hinduísmo não se utiliza o termo religião. Seus sacerdotes, na Antigüidade, usavam a palavra rita. Depois passaram a expressar a idéia de lei divina e perene como Dharma, denominação também comum no Budismo, criado em 500 a.C.
Acredita-se, atualmente, que o vocábulo deriva de duas origens distintas. Relegere se refere à idéia de reler ou revisar os conceitos, tradições, ritos, e princípios antigos adaptando-os às novas eras e necessidades. E Religare seria a vontade de religar algo ou alguém a outros, ou de reunir as pessoas à Divindade.
A partir da hegemonia tradição Judaico-Cristã no Ocidente, religião passou a ser considerada como o conjunto de crenças, rituais, princípios e práticas diversas que buscam exatamente o contato da humanidade com a Divindade. Esta interação seria possível através da chamada revelação, que todos os adeptos consideram como uma realidade concreta.

3-RELIGIÃO E PSICOLOGIA

Adentrando a esfera dos estudos da psique humana, chegamos a uma ponderação mais além. Religião seria uma das maneiras de se explicar todos os mistérios que cercam nossa existência, ou seja, aquilo que a nós é racionalmente incompreensível, de uma forma que possa fazer algum sentido. Esta bagagem inquietante, que foge à compreensão lógica da mente humana, pertence ao campo do Sublime.
Para explicar esta zona de incertezas foram criados os sistemas religiosos primordiais, que utilizam uma variada gama de conceitos dogmáticos baseados na fé. Tais mecanismos impõem uma normatização destes eventos, regrando todos os fenômenos de acordo com as ditas “verdades reveladas”. Estabelecem, assim, a dominação espiritual nesta área inacessível e satisfazem parte de nossa mais profunda angústia, relacionada a necessidade de explicar todos os grandes enigmas.


4-RELIGIÃO E IGREJA

Os conceitos de religião e igreja não são sinônimos.
Religião é uma idéia relativamente nova, criada pelos teóricos do Iluminismo para categorizar uma série de práticas e tradições de fé. Em termos filosóficos, este termo é uma abstração que habita o campo do intangível, o chamado mundo das idéias. Assim, para ser exercido com positividade na sociedade, indo além do exercício pessoal de fé, deve ter um arcabouço que possibilite sua aplicabilidade concreta. Deste modo surge a necessidade da materialização do conjunto ideológico que estrutura uma corrente religiosa, e esta é a definição contemporânea de igreja.
A palavra igreja vem do grego ekklesia, que significa assembléia, reunião ou associação de pessoas. Pode ser chamada, por extensão, de “comunidade dos escolhidos”. Na pré-história e na Antiguidade representava todas as agremiações que preconizavam formas de transcendência rumo a um plano infinito ou eterno. Com o advento do vocábulo religião, igreja passou a representa os objetos materiais, como prédios, mobiliários, paramentos e a hierarquia administrativa criada para a operacionalidade das normas religiosas.
As chamadas grandes religiões, estruturadas através das igrejas, foram se expandindo ao longo dos séculos de maneira gradual e consistente. No início a dificuldade de expansão era significativa. Poucos tinham a oportunidade de conhecer formas alternativas de religião. Heródoto de Helicarnasso(485 a 420 a.C.), poderoso historiador grego, foi uma exceção. Descreveu em seu livro Viagens as práticas religiosas dos diversos povos que encontrou em suas peregrinações pelo mundo. Buscava relacionar os deuses que encontrava com os existentes no panteão grego. Xenofonte de Hérquia (430 a 355 a.C.) dizia que cada povo cria sua tradição religiosa de acordo com sua cultura, e que seria raro o ecumenismo.

5-A FÉ CONTEMPORÂNEA

A partir do início do século XX a expansão religiosa foi exponencial. A facilidade de comunicação e de transporte entre todas as comunidades favoreceu o contato de todos às diversas correntes de pensamento. Isto representou uma vantagem em termos de crescimento, mas significou também um risco permanente de evasão dos fiéis. O ecumenismo e o sincretismo religiosos tornaram-se fenômenos rotineiros, e as chamadas “religiões pessoais” ganharam força dentre as opções de fé praticadas pelos cidadãos em geral.
Atualmente existe uma marcante diversidade filosófica e de crenças por todo mundo, gerando uma permanente concorrência e interação entre todas as instituições religiosas. Podemos dividir a distribuição das religiões de acordo com critérios geopolíticos. Assim, temos as do Oriente Médio (Judaísmo, Cristianismo, Islã, Zoroastrismo e Bahal), do Extremo Oriente (Confucionismo, Taoísmo, Budismo, Mahayama e Xintoísmo), da Índia (Hinduísmo, Jainismo, Budismo e Sick), da África, da Oceania, da América pré-colombiana e da Antigüidade clássica Greco-Romana. As três grandes religiões monoteístas somadas possuem mais de um terço da humanidade sob seus domínios (dois bilhões de cristãos, 1,3 bilhões de islâmicos e 15 milhões de judeus). Interessante observar que cerca de um bilhão de pessoas se declaram sem religião. Neste grupo incluem-se os agnósticos e ateus.




6-O SAGRADO

Ao realizarmos uma reflexão filosófica sobre nossa percepção da realidade fica claro que podemos nos situar em duas realidades paralelas. Existe o mundo tangível ou real, marcado pelas ações rotineiras e pelas atribulações da vida pessoal transcorrida em sociedade. Ali todos caminham de maneira uniforme e inexorável rumo ao seu destino final, após experimentarem uma breve jornada controlada pelo que chamamos de “tempo”. Neste caso nos referimos ao chamado tempo homogêneo, mais conhecido como profano e que é marcado pela submissão inexorável às forças da natureza. O tempo aqui seja astronômico, biológico ou físico, não para. Sentimos seus efeitos em nós mesmos e em muitas entidades que nos cercam – como em troncos de madeira que se deterioram, à semelhança da decaída de nosso vigor físico e mental com o avançar da idade.
Apesar de não compreendermos absolutamente nada sobre esta poderosa energia temporal que atravessa nossos corpos e interage com tudo, sabemos perfeitamente como se apresentam seus efeitos. Disso surge um terrível desejo de controlá-la, adequando-a a calendários ou relógios que no máximo nos mostram com mais clareza como sua passagem segue inabalável.
Exatamente desta necessidade de dominarmos estas forças profanas foi criada pela mente de grandes pensadores do passado uma segunda realidade ou um novo universo, distinto e apartado do profano. Neste plano, o tempo, agora tido como heterogêneo, não passa. Tudo ali tem existência plena e perenidade absoluta, tal qual uma pedra bruta ou polida – que aparentemente não sofre a ação da passagem das eras. Nada se transforma e muito menos sofre processos degenerativos ou escatológicos.
Este tempo separado do comum é denominado Sanctum, Sacrum ou Kadosh - nas três principais línguas da tradição esotérica – ou simplesmente sagrado, e se manifesta em locais muito especiais, chamados de espaços consagrados. Nestes sítios as diversas vertentes da espiritualidade humana desenvolvem seus rituais e sua liturgia e repassam a sabedoria mais antiga aos novos iniciados.
Tanto nos templos erigidos às tradições iniciáticas mais elementares quanto naqueles voltados aos trabalhos de fé, o que opera a plena força e vigor é o tempo sagrado, onde a espiritualidade reina soberana.

7-CONCLUSÃO

Toda forma de transcendência espiritualizada se refere a conceitos universais, presentes em todas as eras e em todos os povos. Referem-se a um estado de espírito, e fornecem uma postura reflexiva sobre tudo que existe.
Se pensarmos em religião como representações das estruturas tangíveis criadas em tempos mais recentes para os trabalhos de fé, certamente poucos elementos podem ser considerados comuns em relação à essência das ordens iniciáticas.
Mas, se considerarmos que todas as religiões são derivadas de um tronco ancestral único, sob o ponto de vista dos conceitos elementares, e que deste eixo simbólico também aflorou nossa Sublime Ordem, nossa resposta pode ser diametralmente outra. Religião e Maçonaria seriam mais que idéias similares.
De qualquer modo, responder simplesmente sim ou não a pergunta-título deste trabalho reduz sobremaneira o universo de sentidos relacionado a toda esta questão. O que realmente importa é garantirmos que as práticas religiosas ou ritualísticas, que fortalecem nossas almas na inexorável jornada pelos labirintos da existência, continuem sendo respeitadas e tenham sua magia preservada até o fim dos dias.

REFERêNCIAS:

CAMINO, Rizzardo da, “Dicionário Maçônico”, Editora Madras, 2006;

CAMPBELL, J. “Mitologias Primitivas”, 7ª Edição, Editora Palas Athena, 2005;

GLESP, “Ritual do Simbolismo do Aprendiz Maçom” Editora Glesp, 2003;

JUNG, C.G. “Psicologia e Alquimia”, 2ª Edição, Editora Vozes , 1994;

ELIADE, Mircea, “O Sagrado e o Profano”, 1ª Edição, Editora Martins Fontes, 1992;

PIRES, Carlos A C, “Origens – Em Busca do Primeiro Maçom” Revista Maçônica “A Verdade”, Editora Glesp, Edição 461, Julho Agosto 2007;

Internet: www.maconariabrasil.wordpress.com, acessado em 20/02/2010.

Carlos Alberto Carvalho Pires
cacpires@gmail.com

sábado, 5 de setembro de 2009

FILOSOFIA E MAÇONARIA: PLATÃO ENTRE COLUNAS

FILOSOFIA E MAÇONARIA: PLATÃO ENTRE COLUNAS
por Carlos Alberto Carvalho Pires
cacpires@gmail.com

Existe uma possível integração alquímica entre a doutrina platônica, que floresceu por volta do século V a.C. e a tradição simbólica maçônica? Para responder a esta intrigante pergunta é preciso abstrair nossas mentes levando-as até a Antigüidade Clássica, na aurora do pensamento filosófico. Assim será possível refletir se, naquele ambiente altamente intelectualizado, as bases de nossa sagrada Ordem teriam eclodido com força e vigor, ao lado da emergente Filosofia. Dessa sacralização teria surgido uma relação de interdependência ontológica entre estas duas escolas, que Platão interpretaria de forma justa em suas obras que atravessam as eras como pilares elementares da estrutura simbólica do universo. Nessa perspectiva inquietante, convidaremos o eminente mestre helênico ao centro de nosso templo. Ali, tal qual nas ágoras de Atenas, ouviremos a exposição de algumas de suas idéias. Ao final vamos deliberar se realmente a Luz Maçônica brilhava com força e vigor em sua mente, contribuindo para a fusão deste amálgama simbólico que tão bem iria sedimentar nossas Colunas e o pensamento humano.
INTRODUÇÃO

Em 427 a.C., na Grécia antiga, nascia um inquieto pensador chamado Aristócles. Mais conhecido como Platão, devido a seu vasto conhecimento (ou a sua imensa fronte cefálica), foi discípulo de Crátilo, da escola de Heráclito, e de Sócrates. Falecido em 347 a.C. é considerado um dos grandes responsáveis pelo surgimento da Filosofia. Estabeleceu uma vasta doutrina que se divide em trinta e seis trabalhos, agrupados em nove volumes. Esta robusta obra, chamada de teoria platônica, passou a ser ensinada na pólis de maneira sistemática e eficaz a partir de 380 a.C., com a fundação da famosa Academia - que visava aperfeiçoar os cidadãos nas diversas artes, para que bem conduzissem os destinos de Atenas.
O que nos chama a atenção, enquanto praticantes da Arte Real, é que grande parte de nossa tradição pode ser interpretada e compreendida à luz dos ensinamentos mais elementares desenvolvidos por este profeta em seu poderoso templo erigido próximo ao bosque em homenagem ao herói grego Academos. Alguns inquestionáveis pontos de intersecção doutrinária entre o nosso Simbolismo e a filosofia matter da Humanidade eclodem com força e vigor à medida que aprofundamos nossa visão sobre estas concepções. Em meio às meditações transcendentais dos mestres do Peloponeso as primeiras pedras das Colunas de Hiram já estariam sendo lapidadas? Vejamos cinco pensamentos que gravitam em torno destas

1-PLATÃO E A ESCADA DE JACÓ

Platão ensina que existem duas formas de se interpretar a realidade: uma pelos nossos sentidos (o mundo dos sentidos) e outra pela nossa intelectualidade (o mundo das idéias). As pessoas comuns viveriam em uma realidade ilusória, uma vez que tem uma noção precária do universo, pois o apreendem apenas através dos cinco sentidos, que são susceptíveis a erros e falhas na interpretação dos fenômenos. Este nível, que utiliza apenas estes instrumentos de nosso corpo, seria o patamar mais primário, elementar e acessível de captação do cosmos. Somente possibilita a formulação de opiniões (a “doxa”) acerca do “ser”, baseadas ou criadas pela imaginação humana (a “eikasia”) estimulada a partir dos vetores sensoriais ou por suas crenças (a “pistis”). Neste caos de sentidos e significados, tudo é passageiro, tudo muda, ou como dizia Heráclito (540 a 470 a.C.), “tudo flui”.
A essência das coisas, porém, estaria além da capacidade física dos nossos órgãos. Começaria a ser captada só a partir do segundo nível do saber, nomeado por Platão como “dianóia” ou “noesis”, que incorpora métodos discursivos e dedutivos no processo de entendimento. Estamos em um patamar intermediário, quase adentrando ao universo das idéias elementares. Aqui, os modelos basilares de estruturação das concepções são as figuras matemáticas puras, que existem apenas na dedução intelectual das formas idias – um quadrado perfeito, por exemplo, jamais é visto na natureza.
Acima deste nível intermediário, situado entre o olhar pelos sentidos e a visão abstrata da mente, resplandece o degrau máximo de conhecimento, a “episteme”. Atingindo este nível, dominamos o “mundo das idéias”, que surge e só é apreensível em função da inteligência. Sua dinâmica ou fisiologia independe das conjecturas do tempo, uma vez que se cristaliza pela dimensão do eterno, daquilo que “é” – como afirmaria o digno representante da tradição pré-socrática, Parmênides (530 a 470 a.C.).
A trajetória evolutiva dos filósofos, buscando ultrapassar o mundo sensível e conquistando, assim, o universo das idéias, se apresenta claramente em nossas Lojas, quando regularmente constituídas. Em todas nossas Sessões Ritualísticas representamos exatamente esta jornada rumo ao aperfeiçoamento humano, onde as verdades mais puras e inequívocas se estabelecem. Saindo do mundo profano (o pavimento mosaico) vamos escalando degrau a degrau os níveis do conhecimento, que cintila exatamente no mundo das idéias. O processo de asceze intelectual, tão bem descrito por Platão, foi traduzido pelos Mestres-Maçons como a metáfora da jornada pelos degraus da escada de Jacó, que se apruma simbolicamente entre as Luzes Emblemáticas e orienta nossos trabalhos.

2-O MITO DA CAVERNA E A INICIAÇÃO

Platão, no capítulo VII de sua obra “A República”, nos apresenta uma alegoria sobre a condição existencial humana que se constitui na mais famosa e conhecida construção mitológica da Filosofia, chamada de parábola ou mito da Caverna. Propõe o mestre que imaginemos uma imensa caverna na qual homens permanecem acorrentados pelos pés, mãos e pescoços, de costas para a entrada e de frente a uma grande parede – o fundo da gruta. Ali eles nasceriam, viveriam e morreriam, por sucessivas gerações. Tudo que enxergavam era a grande murada a frente, similar a uma tela ou pano de fundo de um palco. Lá fora, um pouco além da embocadura, haveria uma monumental fogueira, gerando muita luz que iluminava continuamente as pessoas e os objetos do mundo externo, interpostos entre o fogo escaldante e a caverna. Nesta condição, sombras destes entes seriam projetadas para o interior, chegando até a parede. Os sons emitidos pelas falas e demais eventos também seriam enviados e refletiriam como ecos, pelas pedras. Assim, qual seria a percepção da realidade captada pelos homens acorrentados? Afirma Platão que eles enxergariam apenas um eterno desfile de imagens virtuais e ecos que não se constituiriam na realidade das coisas - seriam apenas projeções, artefatos ou simulacros da verdade. Eles estariam nas trevas, no caos e no terror da ignorância e da obtusidade da mente humana que ainda não teria assimilado a capacidade de ver além das aparências.
De repente, porém, ocorre um fato insólito. Uma pessoa que permanecia ali, inerte, toma uma atitude. Dotada de uma capacidade moral e intelectual diferenciadas, sente uma inefável necessidade de ir além. Cria instrumentos para romper os grilhões e assim se liberta, girando vagarosamente sua cabeça em direção à fonte das imagens projetadas, onde está o fogo, depois se levantando e caminhando serenamente rumo à saída da caverna. Ali recebe a Luz esplendorosa do Sol, e adquire a Sabedoria, tendo contato pela primeira vez com a verdade. Este processo é doloroso, pois seus membros e músculos nunca haviam sido exigidos, assim como seus olhos, que se irritam e lacrimejam com a forte luminosidade natural. Os raios solares do Meio-Dia chegam a queimar sua pele sensível, deixando uma marca inequívoca de que o homem, agora, está transformado. Jamais será o mesmo, pois trilhou um caminho sem volta.
Passado algum tempo, nosso bravo companheiro resolve retornar à caverna, para encontrar seus antigos parceiros de cárcere. Ali chegando, porém, fica claro que a metamorfose em sua alma foi além do que sua vã filosofia podia supor. Ele não consegue mais se comunicar adequadamente com os outros, pois sua linguagem está inacessível à capacidade de interpretação dos que permaneceram nas sombras. Suas experiências no mundo real soam como mentiras, e geram estresse e descontentamento aos presos, que passam a maltratá-lo. Nosso herói conclui que deve permanecer calado, no mais profundo silêncio sobre tudo que se passou lá em cima, quando estiver visitando os ambientes de penumbra.



3-A GEOMETRIA PLATÔNICA

Platão afirma que para acessarmos os dois degraus iniciais da escala rumo ao conhecimento supremo, dependemos apenas de nossos cinco sentidos, como vimos anteriormente. Portanto, o “mundo das crenças e das opiniões” está à disposição de qualquer pessoa, mesmo aquela que ainda permanece acorrentada no fundo da caverna. Mas, para começarmos a traduzir os ideogramas primários do “mundo das idéias”, perseverando na disposição de compreender a realidade, necessitamos interpretar o significado das formas matemático-geométricas que existem exatamente neste plano inicial da asceze para além da capacidade sensorial. Surge, então, não mais apenas a alegoria do “homem-comum”. Vemos eclodir a figura do pensador-matemático, que abstrai sua mente levando-a a círculos improváveis de raciocínio puro. Em outras palavras: a Geometria se firma como ciência primeira, aquela que rompe os pórticos de entrada dos templos da verdadeira sabedoria.
Seguindo a tradição de tantos filósofos que já haviam prenunciado o valor abstrato das formas poliédricas para o entendimento das realidades além do universo concreto, Platão desvenda e explica porque há tanta valorização dos mistérios desta nobre arte por parte dos especuladores contemporâneos. Indo muito além das questões relacionadas à arquitetura e construções em si, compreender o sentido das formas geométricas significa entender o próprio processo de autoconhecimento e de compreensão do Cosmos.

4-DO CAOS AO COSMOS

No princípio existia o caos, que era a matéria amorfa e sem definição. Depois, surgiu a organização arquitetural destas estruturas e o cosmos se estabeleceu. Este conceito global de formação do universo, trabalhado alegoricamente em nossa ritualística, se apresenta em detalhes na doutrina platônica. A dualidade entre os dois grandes mundos, o sensível e o das idéias, volta ao cerne nesta proposição. Para Platão, a causa verdadeira da existência do chamado “mundo sensível” seria o “mundo inteligível”, ou seja, este gera aquele. As idéias, que podem ser definidas como sendo os princípios formais de tudo que existe, estruturam a matéria ilimitada e indeterminada de caráter físico, o receptáculo sensível chamado também de “chora”.
Mas, como se processa esta transformação rumo ao equilíbrio? Nosso doutrinador não nega a existência dos deuses pessoais - comuns na Antiguidade clássica - mas diz que há uma entidade indefinida, impessoal, estruturalmente múltipla, que se estabelece na possibilidade de encarar a divindade na perspectiva do supra-sensível, ou seja, além/acima dos sentidos. Claramente este agente se refere diretamente ao “mundo das idéias” e às suas infinitas possibilidades. Este ente determinaria que um deus-pessoal ou artífice plasmador, batizado como demiurgo, se incumbisse de trabalhar a matéria bruta de acordo com os moldes imutáveis e elementares (as idéias) criando as cópias que se apresentam no campo sensível.
Em nossa cosmo-visão, o mundo inteligível ou sensível seria o habitáculo ou a representação do Grande Arquiteto do Universo, pois dali se extrai as formas primordiais, e o demiurgo seria a sabedoria, ou a inteligência - que dá forma justa e perfeita a cada detalhe do projeto arquitetural da grande obra.




5-A EXISTÊNCIA DO BEM

Trabalhamos sempre em busca do aprimoramento moral e intelectual da humanidade. Para que isso seja possível é necessário que acreditemos na existência de uma força concreta que impulsione, oriente e determine nossas condutas sempre pela trilha do reto e justo. Platão, de certa forma, define este vértice condutor de nossos caminhos e o denomina de “Bem”. Este seria o princípio supremo, estabelecido no livro “A República”. Nas tradições esotéricas mais antigas tratava-se do número um, ou unidade.
O sistema platônico das idéias se forma de acordo com uma hierarquia perfeita, com ordem e organização, ficando as “idéias inferiores” abaixo das “superiores”. Temos assim o surgimento de uma pirâmide virtual cujo ápice é formado pela idéia elementar, unitária ou essencial: o Bem. Este não seria condicionado por nada mais, pois tem autonomia e potência absoluta, e se constitui no fundamento que torna todas as outras idéias cognoscíveis à mente humana. Ele não se equipara à substância (a matéria da qual são extraídas as coisas) nem à essência (as formas ou idéias elementares), pois está acima de tudo isso, transcendendo a estes planos de forma inequívoca e eterna.

CONCLUSÃO

Fica claro que Maçonaria e Filosofia são frutos da mesma árvore da sabedoria ancestral. Ambas se entrelaçam em uma complexa simbiose de símbolos e significados, interpretando as inúmeras concepções criadas pela mente humana para entender o sentido do universo. Analisamos apenas as cinco passagens acima, que expõe parte do pensamento de Platão, temos a confirmação flagrante que existem evidentes congruências entre estas duas formas de
Dentre as várias escolas filosóficas, a chamada Filosofia Antiga, que floresceu na Grécia em meio às assembléias e debates, exerceu significativa influência na estruturação de nossa doutrina, cuja essência foi estabelecida em tempos imemoriais.
Concluímos, portanto, que ser reconhecido como um legítimo iniciado na sublime Ordem Maçônica equivale a ser considerado, simbolicamente, um digno e valoroso discípulo do grande mestre Platão.

Carlos Alberto Carvalho Pires, M.M.
ARLS Acácia de Jaú 308 Glesp SP – Or Jaú SP

REFERÊNCIAS:
1- Dinucci, A. “Platão, entre a Filosofia e a Retórica” revista “Prometeus –Filosofia em revista” ano I, n.2, Julho-Dezembro 2008, pág 1-15;
2- Jaeger, W. “Paidéia – a Formação do Homem Grego” cap “A Imagem de Platão na História”, Editora Martins Fontes, 1995, pág 581-591;
3- Moravcsik, J. “Platão e o Platonismo”, 1ª edição, editora Loyola, 2.006;
4- Platão, “A República”, Editora Atenas, 6ª edição, 1.956, pág 286-291;
5- Reale, G. “Para uma Nova Interpretação de Platão” 2ª edição, editora Loyola, 2004;
6- Reale, G. “História da Filosofia – Antiguidade e Idade Média”, quarta parte, “Platão e o Horizonte da Metafísica”, Editora Paulus,1990;
7- Ritual do Simbolismo do Aprendiz Maçom – Rito Escocês Antigo e Aceito, editado pela GLESP, SP, 2003

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A Mulher, a Maçonaria e o 18o LandMark

A Mulher e a Maçonaria – Reflexões sobre o 18º LandMark de Mackey
IRMÃO CARLOS ALBERTO CARVALHO PIRES, M.M.
A.R.L.S. Acácia de Jaú 308 - cacpires@gmail.com

1-A práxis para o estudo de qualquer assunto maçônico envolve o desenvolvimento de uma pequena jornada no tempo e espaço, em busca dos elementos seminais que determinaram a síntese subjetiva que vemos hoje. Toda obra arquitetônica definitiva se entrelaça ao primeiro traço na prancheta, onde jazem os verdadeiros fundamentos.

2- Lançar nosso olhar pós-moderno sobre idéias que se cristalizaram ao longo de milênios de conhecimento acumulado, como as existentes no 18º Landmark de Mackey (1.856), pode ser uma atitude temerária. Temos que considerar as diferentes formas de intepretar a realidade que definem o pensamento humano ao longo de toda evolução histórica. Assim alcançamos a acesze intelectual que brota das luzes emblemáticas da Ágora de Hiram, rumo à sublimação.

3-Podemos dividir a evolução do pensamento humano em cinco fases distintas, todas simbolicamente representadas em Loja. O Venerável-Mestre traduz o Homem Primordial ou primeiro Homo sapiens, que estabeleceu as bases das tradições esotéricas. O Primeiro Vigilante é o Homem Greco-Romano, aquele que codificou os grandes temas político-filosóficos do mundo ocidental. O Segundo Vigilante se mostra como o Homem Medieval, cujo espírito se acomodava sob o dossel da transcendência divina. No Oriente existe a figura do Homem Moderno, com sua crença absoluta na razão esclarecida, incorporado pelo Orador. Por fim temos aquele que quebrou todos os paradigmas de fé, seja na natureza, na religião ou na ciência - é o Irmão Secretário irrompendo entre Colunas como metáfora do Homem Pós Moderno.

4-Estas cinco Colunas basilares da Oficina estabelecem cinco retas entre si que criam uma figura geométrica justa, quando conectadas. A chamada estrela pentalfa representa um sistema dinâmico onde o macro e o microcosmo se fundem. Esta síntese psíquica gira no sentido dextrógiro, em torno do altar dos juramentos, como uma cruz gamada absorvendo energias do universo. A união alquímica entre as mentes antigas e as atuais, dos grandes pensadores do passado e dos iniciados contemporâneos, se torna uma realidade simbólica.

5-A estrela do conhecimento repentinamente trava seu movimento, tal qual o astro-rei nos solstícios. Seu eixo aponta para o altar do Venerável Mestre. A partir deste ponto começaremos nossa jornada meditativa, focando a mente do Primeiro Homem. Nesta fase não existiam casas, cidades, reinos nem qualquer forma de organização social. Os homens vagavam errantes pela mãe África. Caçando e colhendo frutos, gozavam uma vida paradisíaca.

6-Apesar da aparente paz, os grandes questionamentos sobre os fenômenos naturais, biológicos e filosóficos já inquietavam a arena psicológica dos pioneiros. Nossos antepassados concluíram que devia haver uma realidade paralela imperceptível aos cinco sentidos. Esse outro mundo estaria na penumbra, como um universo oculto, determinando nossos destinos.

7-A beira do completo caos psíquico que estas angústias traziam, surgiu a redenção. Um determinado membro do grupo, dotado de carisma profético, assumiu seu bios político bradando que podia explicar os mistérios ocultos. Este sábio, mago, druída, sacerdote ou bruxo afirmava entender o conjunto de idéias desconexas que fogem à compreensão racional. Para dar sentido a estes pensamentos inquietantes seria preciso regrá-los, enquadrando-os em procedimentos ritualísticos elaborados.

8-Os rituais primordiais ocorriam em cavernas profundas, à luz de tochas. O xamã fazia pinturas artísticas nas paredes, reproduzindo pictogramas, além de figuras de animais e de entes antropozoomórficos. Só participavam dos trabalhos aqueles que eram convidados, pois nem todos apresentavam as mínimas qualificações espirituais para compreender esta visão expandida da realidade. Surgiam as chamadas “comunidades dos escolhidos”- ekklesia em grego.

9-Os sábios perceberam que para decifrar um mistério era preciso vivenciá-lo: tinham que encarar o poder de frente e vencê-lo, voltando ilesos das jornadas cheias de riscos a que se submetiam. A forma de se trabalhar estas angústias, sem submeter os voluntários a riscos reais, seria interpretá-las através de narrativas simbólicas.10-Para definir a essência dos temas mitológicos, consideraram a existência de certas idéias que operavam em aparente antagonismo, mas que mantinham estreita conexão de sentidos. Estabelecendo uma relação dialética, dois conceitos - tese e antítese - acabavam se assimilando em um terceiro, que incorporava elementos das duas proposições anteriores. Como exemplos destes sistemas temos o dia e a noite, a vida e a morte, o finito e o infinito, o micro e o macrocosmo, o sol e a lua e muitos outros. Toda ritualística tinha que incorporar apenas um dos pólos desta relação para ter efetividade. A partir desta escolha se estabelecia a tradição a ser seguida e respeitada ad aeternum.
11-Muitas vertentes esotéricas consideraram a dualidade macho/fêmea e as estações do ano para a construção das narrativas. Sabemos que existem duas fases distintas a cada giro da Terra em volta do Sol. A primeira seria voltada ao reinado da vida, da luz, do calor e da abundância, que engloba a primavera e o verão. A segunda se refere às estações onde impera o frio, a fome, as doenças, o medo, e a morte – falamos do outono e do inverno.

12-A vida vegetal, que floresce nas épocas de Sol e decai nos meses de trevas, brota do ventre da Terra assim como os animais nascem do ventre de suas mães. A Terra, assim, assumia o epíteto de Mãe-Terra ou Deusa. Os cultos primordiais eram dedicados a esta figura poderosa, com forte ligação às coisas da natureza. Repletas de signos relativos à fertilidade, estas ordens tinham nas sacerdotisas a fonte de veneração. Destacam-se os cultos à Isis, à Innana, à Hera, à Ceres, à Maria Madalena e à Minerva.

13-O principio fertilizador, necessário ao advento da vida, era o Sol. Isso porque quando ele se afasta, a vida fraqueja. No inverno o astro praticamente morre. Seu óbito ocorre metaforicamente no solstício de inverno, em 21 de dezembro. E quando o Sol falece, deixa viúva a Mãe-Terra. Restam apenas no deserto gelado alguns troncos perenes, os “troncos-da-viúva”, e raras folhagens que resistem às intempéries, como as acácias.
14-Outros grupos resolveram não adotar o conceito ontológico da Mãe-Terra. As narrativas deviam transcender o reino telúrico e chegar, triunfantes, aos céus. Criaram-se os mitos solares. O Sol passava a ser o protagonista das narrativas. Nestes procedimentos, o herói tem um nascimento tumultuado, depois passa por inacreditáveis situações de risco, sendo muitas vezes lançado em rios, enclausurado em arcas ou berços improvisados. Após uma juventude misteriosa, tem um momento de “iluminação”, quando ouve um chamado.

15-Este é o estopim para o início de uma viagem em que o iniciado vai resgatar algo que era legitimamente seu, mas que foi usurpado por uma força injusta. Repleta de perigos, esta epopéia geralmente leva os bravos aos confins do oriente. Lá está o objeto de redenção, que se desdobra em várias figuras arquetípicas, como o cálice sagrado, a pedra filosofal e a palavra perdida. Depois de achar o que procurava, e derrotar o maior dos adversários – um ente que representa as forças primitivas e elementares da natureza – o conquistador retorna são e salvo ao seu grupo, fortalecido e equilibrado.

16-A viagem heróica é uma metáfora do processo de individuação. Representa a busca pela identidade que todos devem empreender para atingir a maturidade. O homem tem que conhecer o papel individual que lhe foi reservado, e que vai marcar sua fugaz passagem pela vida. Esta sabedoria só é possível através do autoconhecimento, fenômeno acessível apenas àqueles que adentram aos mais profundos labirintos de nosso subconsciente.

17-Toda experiência maçônica nada mais é do que uma complexa e elaborada jornada psíquica: trafegamos do mundo consciente, simbolizado pelo Ocidente, aos planos mais profundos do inconsciente, representado pelo Oriente. Os trabalhos ritualísticos traduzem a busca atemporal por aquilo que foi perdido em tempos imemoriais. A falta deste objeto intangível nos torna seres incompletos e eternamente angustiados em nossa subjetividade.

18-Assim como Mitra, Apolo, Krishna, Rama, Gilgamesh, Hórus, Teseu, Prometeu e Hércules, nosso herói Hiram Abiff é um mito solar. Todos personificam o pólo masculino, positivo e ativo da relação dialética entre macho e fêmea. Por esta opção ancestral realizada pelos primeiros doutrinadores de nossa Ordem apenas homens devem ser escolhidos para vivenciar, na plenitude, as experiências místicas inerentes ao universo simbólico da sagrada Arte Real.

Referências:
1-Campbell, J. “Mitologias Primitivas”, 7ª Edição, Editora Palas Athena, 2005
2-Campbell, J. “O Poder do Mito”, 1ª Edição, Ed. Palas Athena, 1990;
3-Glesp, “Ritual do Simbolismo do Aprendiz Maçom”, 2.001;
4-MacDowell, J “Saber Filosófico, História e Transcendência”, Ed.Loyola, 2.002;
5-Jung, C.G. “Psicologia e Alquimia”, 2ª Edição, Editora Vozes, 1994;
6-Pires, C.A.C., “Origens – em busca do primeiro maçom”, revista maçônica “A Verdade”, editada pela Glesp, Ano LV, edição No 461, julho/agosto 2007
7-Pires, C.A.C. “O Simbolismo Maçônico em Stonehenge”, site “Pietre Stones – Review of Freemasonry” http://www.freemasons-freemasonry.com/stonehenge_maconaria.html

Irmão Carlos Alberto Carvalho Pires, M.M.
cacpires@gmail.com
A.R.L.S. Acácia de Jaú 308 – Or de Jaú SP

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Maçonaria: Adão, foi o primeiro Maçom?

Adão foi o Primeiro Maçom?
por Carlos Alberto Carvalho Pires

Adão era um legítimo Maçom? Esta intrigante questão, para ser adequadamente respondida, requer o desenvolvimento de uma breve reflexão. O que realmente significa ser um iniciado na Arte Real, seja atualmente, seja em tempos imemoriais, é o verdadeiro enigma a ser decifrado. Se considerarmos que só após o surgimento da Maçonaria como entidade formal, com a institucionalização dos ritos e estabelecimento da estrutura organizacional, poderiam existir Maçons operando a plena força, claro fica que jamais teríamos um pedreiro-livre em meio às figueiras do paraíso. Mas, se o verdadeiro espírito de Hiram transcende as eras, e já se mostrava vivo e operante quando o primeiro sopro de vida irradiou-se pelo firmamento, podemos estar diante de uma maravilhosa saga maçônico quando analisamos as mitologias relativas ao início de tudo.
1- O MITO DA CRIAÇÃO
Em todas as civilizações existentes ou que já existiram as preocupações com o início dos tempos é lugar-comum. Isto porque faz parte da natureza humana vislumbrar uma explicação racional para todos os mistérios, mesmo quando a própria razão se esgota. Nossas mentes inquietas exigem que as lacunas na totalidade cultural sejam preenchidas de uma forma ou outra, pois o que mais angustia e dilacera nossas almas é a falta de entendimento sobre as grandes questões da existência.
Considerando que deve ter havido um ponto primordial, ou um momento zero que tudo inicia, a mente criativa do Homo sapiens criou um intrigante arquétipo para elucidar esta área nebulosa de nosso passado. Surgiam as Cosmogonias ou os Mitos da Gênese, que relatam o aparecimento da natureza juntamente ao casal primordial. Traçado originalmente em um tempo esquecido, mas perpetuado por inúmeras culturas e civilizações ao longo das eras, o drama do primeiro homem e da primeira mulher ainda permanece vivo em nossos corações e almas. Por se tratar de uma angústia similar a todos os homens, as narrativas apresentam traços comuns, apesar das grandes distâncias geográficas e temporais existentes entre as culturas que as codificaram.
A dominância inicial de trevas imensas que tudo envolvia, por exemplo, é uma lenda contada pelos índios Pima, antigos habitantes da América do Norte. Depois teria surgido a luz, que acabou com a noite eterna. No vale do rio Indo, os Upanixades acreditam que o ser inicial criou o homem a sua imagem e semelhança, por ter se sentido solitário - isso data de seis mil anos atrás. Outro caso interessante vem da África ocidental, da tribo Bassari. Estes guerreiros dizem que Unnumbotte, o princípio criador, gerou o homem, depois o antílope e a serpente, e os obrigou a trabalhar a terra.
Em termos maçônicos, sabemos pelas antigas tradições que o G.A.D.U. resolveu, em determinado momento, lançar luz sobre as trevas. Materializava, assim, o sopro divino na forma das criaturas vivas que habitariam os diversos planos da existência. A matéria primordial, ou Pedra Bruta, seria lapidada para adquirir vida. Este substrato natural, simbolizado pelo número 4, englobando os elementos essenciais, seria complementado pelo número 3, o algarismo perfeito. Assim como em nosso avental, onde o quadrado se une ao triângulo espiritual e nos traz o equilíbrio justo, a vida floresceu e marchou a passos firmes rumo à evolução. O momento inicial de surgimento do homem-maçom dá-se, simbolicamente, durante o rito da Iniciação – mais especificamente quando os candidatos professam seus juramentos solenes.
2- O ÉDEN ENTRE COLUNAS
Dentre as inúmeras mitologias existentes, vamos nos ater à versão descrita na tradição Judaico-Cristã, que influenciou toda forma de pensamento no mundo ocidental. Registrada no livro do Gênesis, o primeiro do Pentateuco ou de Moisés, ali está descrita uma visão estilizada do que teria sido a estupenda criação do mundo pelo G.A.D.U. em sete dias. O Jardim do Éden é uma metáfora de um mundo de sonhos, onde o tempo, o nascimento, a própria vida e a morte não existem. O Criador, ser uno e permanente, resolvera tornar-se finito. Assim o fez por necessidade, não por vontade. O personificador da substância infinita, presente em tudo, criou, então, a natureza. Como faltava um jardineiro para cuidar de seu jardim, lançou-se em mais um projeto arquitetônico: um ser lapidado a sua imagem e semelhança iria habitar aquele mundo de contemplação. O primeiro homem, Adão, brotou da terra. Com vida eterna, por comer livremente da árvore do conhecimento, vivia em perene contemplação, em conjunção intrínseca com a divindade, como uma extensão ideal da própria substância que o gerara. E para acompanhá-lo, o Criador extraiu de seu corpo a matéria para forjar a companheira ideal, Eva. A obrigação deles seria dominar a terra, se multiplicando. O único impedimento seria buscar a verdade sobre o que é o bem e o que é o mal – estavam proibidos de se alimentarem com os frutos da famigerada árvore do conhecimento.
O que nos impressiona, analisando alguns trechos desta maravilhosa narrativa à luz dos preceitos maçônicos, é que muitos elementos existentes em nosso Simbolismo já operavam a plena força e vigor nos primórdios dos tempos. Destacaremos apenas nove passagens que comprovam esta tese.
2.1- O Elemento Terra
No Capítulo 1, versículo 24, existe uma situação inicial onde “disse também Deus: produza a terra seres viventes”. Disso percebemos, metaforicamente, que todos foram forjados da terra. Este elemento, um dos tijolos essenciais formadores da totalidade existencial na visão esotérica e na concepção da Alquimia, já se mostrava como matéria prima operativa do G.A.D.U. Na Iniciação maçônica, a prova da terra representa o começo da jornada do aprendiz e aqui, no limiar da gênese, também se apresenta como o elemento iniciador do processo existencial.
2.2- A Igualdade
Ainda neste primeiro capítulo, é dito que “Criou Deus o homem à sua imagem” (versículo 27). Fica claro que existe uma comunhão entre a substância universal e o ser criado. O principio da igualdade entre os homens, enquanto regidos pela mais elevada ética, é aqui evidente. A mais justa e perfeita igualdade ocorre entre o Criador e seus filhos. Assim, não é concebível haver qualquer forma de discriminação entre os homens se todos foram feitos da mesma matéria, sendo similares na estética que se espelha no pressuposto criador.
2.3- O Ciclo da Vida
Vendo o Capítulo 2, versículo 9, notamos que “do solo fez Deus brotar toda sorte de árvores, e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal”. Aqui temos uma forma de dom da imortalidade sendo repassado aos homens, através da árvore da vida – figura mitológica co-irmã da “fonte da juventude”. Comendo os frutos desta planta, a pessoa jamais morre. Mas, qual o simbolismo desta premissa? Temos duas formas de avaliar esta condição. Podemos considerar que há uma referência a um componente eterno que não se desfaz no momento da morte, ou que existe uma perenidade concreta do ser humano, que nunca experimentaria as desgraças da velhice, das doenças, da decrepitude física e dos sofrimentos pré-mortuários. Mas, por outro lado, devemos filtrar este simbolismo com o as lentes do terceiro e mais filosófico olho. Talvez o homem estivesse ainda em uma fase de total imaturidade em relação aos martírios e às dificuldades da vida, como Sidartha Gautama enquanto preso em seu palácio, antes da “iluminação”. Como qualquer criança na primeira infância, a morte é uma figura inexistente, e todos se acham eternos e invulneráveis às mazelas normais de qualquer ser vivente. Por este segundo prisma, percebemos uma simbiose com a situação do candidato. Ele deve vislumbrar sua condição natural e passageira na primeira prova, na câmara das reflexões. Ter noção de nossa limitação física e temporal é condição essencial para se iniciar nos mistérios da Ordem. Portanto, quem ficar satisfeito apenas com o acesso aos frutos da árvore da vida, não tem condições para ser indicado como obreiro.
2.4- Discernir entre o Bem e o Mal
Nos versículos 16 e 17 é dito que “E Deus deu esta ordem: de toda árvore do Jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento não comerás”. Aqui volta o risco de manter o jovem nas trevas, pois além de se manter sem noção de sua incapacidade de viver eternamente, lhe é mandado que nunca busque a sabedoria sobre o que é certo e errado, o que representa a vida justa e reta, sem vícios, e o caminho do mal. A verdade sobre a virtude e o terror são negados ao homem. Deste modo, Adão se via diante de um dilema: seguir cegamente as orientações expressas ou buscar a luz do conhecimento, estando pronto para arcar com as conseqüências?
2.5- Faça-se a Luz!
A mais clara conexão entre a saga de Adão e a jornada do Aprendiz está relatada, de maneira primorosa, no Capítulo 3, versículo 5: “no dia em que comeres da árvore do conhecimento, se vos abrirão os olhos, e como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”. Aqui, só falta aguardar o acorde de Zaratustra para se descrever um dos momentos mais marcantes de nossa vida maçônica. Abrir os olhos é a metáfora equivalente a retirar as vendas, que impedem a ação de nossa visão espiritual sobre a realidade. A comunhão com o infinito, que é a substância divina se estabelece exatamente neste momento, na forma da autoconsciência adquirida, sabendo julgar, agir e ser completamente responsável por todos seus atos. Em suma, tornamo-nos livres. Esta manifestação livre da vontade se apresenta no versículo 6 , quando é relatado que Eva e Adão comeram o fruto da árvore do conhecimento.
2.6- O Avental Primordial
Em seguida ao acesso à verdadeira sabedoria, relatado acima, vemos mais um elemento fundamental de nossa ritualística sendo introduzido na cena primordial. O avental, que cobre os três chakras cabalísticos mais inferiores, se apresenta na forma de uma cinta com folhas que são colocados no casal inicial, imediatamente após abrirem os olhos – isto está no versículo 7 , “Abriram-se, então, os olhos, e vendo-se nus fizeram cintas com folhas de figueira para si”.
2.7- O Auto-Conhecimento
No capítulo 3, versículo 10 e 11, Adão se manifesta afirmando que tem consciência de estar nú. Pela primeira vez na vida ele adquirira esta capacidade tão elementar a todos: de se auto-enxergar. A metáfora da nudez, aqui, representa a condição do ser humano quando livre de todos os atributos superficiais. Assim permanece apenas sua essência. Esta é uma premissa básica de quem busca a verdade. Primeiramente temos que conhecer nossa realidade, sabendo exatamente quem somos, para depois decifrar os mistérios do universo. Este pressuposto absoluto, que escancara nossa finitude temporal como um dos grandes mistérios de nosso ser, estava registrada no frontão do templo a Apolo, em Delfos ( gnothi sauton, ou nosce ipsum em latim). O ato de se conhecer, de enxergar fundo nos próprios olhos atingindo o mais obscuro labirinto da alma, é condição indispensável a todos que desejam a plenitude.
2.8- A Virtude do Trabalho
O exercício de um trabalho honesto e digno, como bem sabemos, é obrigação elementar de todo maçom. Ganhar a vida com os próprios esforços, derivados dos méritos e talentos individuais, é predicativo indispensável aos obreiros. Um maçom não pode ser um ente imprestável, que vive à sombra de outro, como um parasita. Este preceito básico incrivelmente aparece, de maneira direta, no versículo 17 e 19 deste mesmo capítulo. Vemos que “disse Deus a Adão: …em fadiga obterás, da terra, o sustento. No suor de teu rosto comerás o teu pão, até que tornes a terra, pois dela foste formado, porque és pó e ao pó retornará”. Portanto, a necessidade de exercer efetivamente um trabalho já se tornava uma norma inquestionável ao querido Adão. Ele abandonou a vida fácil da coleta de frutos, na qual se mantinha em contemplação vegetativa permanente, tal qual faria um bom e legítimo maçom contemporâneo.
2.9- A Liberdade
Liberdade pode ser definida como a capacidade de conhecer, julgar, agir e ser responsabilizado por isso. Vemos que a premissa básica do ser livre é ter conhecimento adequado sobre qualquer evento, principalmente quando diante de um dilema ético. No final do capítulo 3, é revelada a Adão sua nova condição: “Disse Deus: eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal” (versículo 22). Adão se apresenta como um ser humano pleno, com noção de sua finitude e de suas limitações, e totalmente livre para agir conforme a ética mais justa, sendo também o único responsável por seus atos, pois agora conhece o caminho do bem e do mal. 3-
CONCLUSÃO
As primeiras manifestações ritualísticas, segundo muitos estudos, já operavam embrionariamente no seio da mãe África. Há milhões de anos em comunidades humanas fincadas na planície de Olduwai já se praticariam cerimônias com nuances do simbolismo atual. Posteriormente, o culto à Akhenaton, o deus-sol venerado na cidade perdida de Amarna, aprimoraria tais ritos. Mais aperfeiçoamentos seriam incorporados pelo contato com os cultos a Elêusis na Grécia, com as empreitas dos Collegia Fabrorum de Roma e pela chegada do esoterismo dos Essênios. Na rotina das Guildas medievais o valor do trabalho seria destacado. Chegamos com força à época da lenda de York e dos famosos Manuscritos Cook e Regius. Os Cátaros, os Templários e a reação da Santa Inquisição marcaram com fé e sangue nossos primeiros catecismos. A fundação da Royal Society pode ter sido o catalisador que faltava para a publicidade experimentada pela primeira vez em 24 de Junho de 1.717, com o surgimento da primeira obediência, em Londres. Nossa tradição, enquanto sociedade iniciática organizada, sofreu todas estas influências ao longo de sua história. Seguindo esta linha temporal, que considera a formalização da Ordem como condição essencial para o reconhecimento dos legítimos obreiros, fica evidente que não seria possível existir um iniciado em tempos remotos.
Mas, se pensarmos na Maçonaria como um estado de espírito intangível e inefável, que norteia nossas vidas mostrando o caminho justo a seguir independentemente de haver ou não qualquer estrutura formal para regulamentar este estado da alma, vemos que existe algo mais do que a historiografia oficial nos apresenta. Por esta forma de encarar os fatos, quando surgiu o primeiro homem tocado pela verdadeira luz maçônica, teria aparecido a filosofia mais sublime jamais criada. Os conceitos, os princípios e as verdades ancestrais que fundamentam nossa Ordem, e que se cristalizam nas almas dos legítimos Irmãos, surgiram muito antes que qualquer rito ou doutrina oficial fosse registrado – floresceram em um tempo há muito esquecido, perdido em meio às brumas da eternidade. E, deste modo, a saga de Adão pode perfeitamente ser considerada uma poderosa jornada pelas Colunas de Hiram.
4-Referências
4.1- “Biblia Sagrada”, tradução de João Ferreira Almeida, Editora da Sociedade Bíblica do Brasil, SP, 2002;
4.2- Campbell, J. “O Poder do Mito”, 1ª Edição, Editora Palas Athena, 1990;
4.3- MacNulty W K , “Maçonaria: uma Jornada por Meio do Ritual e Simbolismo”, Editora Madras , São Paulo , 2.006 ;
4.4- Pires, Carlos A C, “Origens – Em Busca do Primeiro Maçom” Revista Maçônica “A Verdade”, Editada pela Glesp, Edição 461, Julho Agosto 2007;

4.5- Ritual do Simbolismo do Aprendiz Maçom, Editado pela GLESP, SP, 2001;

4.6- Robinson JJ ,“Os Segredos Perdidos da Maçonaria”, Editora Madras, SP, 2.005 ;

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Göbekli Tepe



Göbekli Tepe : O Templo-Criador da Civilização
por Carlos Alberto Carvalho Pires

1-INTRODUÇÃO

O ser humano moderno ou Homo sapiens surgiu há cerca de 200.000 anos, durante o período Paleolítico Médio (300 a 40.000 anos atrás). Desde o início de sua jornada histórica, seguindo os ensinamentos dos hominídeos anteriores, vivia da coleta de frutas e tubérculos, que extraia da mãe-natureza de maneira ecológica. Além do cardápio vegetariano, buscava proteína animal realizando caçadas aos animais selvagens, atividade normalmente restrita aos homens. Isto foi sua realidade cotidiana por aproximadamente 140.000 anos. As comunidades gozavam uma vida tranqüila, ociosa e pacífica. A existência era uma constância linear, apenas voltada às necessidades básicas, sem grandes sobressaltos no status quo entre incontáveis gerações. Certamente as grandes preocupações universais já existiam, mas os pensadores não deixaram registros arqueológicos destes tormentos ancestrais, nestes primeiros milênios. Esta visão paradisíaca do mundo, porém, estava com os dias contados.
Por volta de 40 a 35.000 anos atrás, um fenômeno extraordinário ocorreu. A mente operando no maior cérebro existente começava a produzir uma nova forma de se encarar a realidade. Surgia o chamado pensamento simbólico, e este insight passou a integrar todos os rituais tribais elementares. As imagens fundindo a realidade com situações insólitas, provavelmente criadas durante viagens transcendentais, forçavam sua manifestação concreta, tangível, e ex-corporis. Os magos inicialmente expressavam estas visões bidimensionais advindas dos momentos de intensa reflexão em magníficas pinturas. Sedimentadas em cavernas da África, Europa e Oriente Médio, estas verdadeiras obras de arte da humanidade foram achadas primeiramente em Altamira, na Espanha (1.879). Depois surgiram as obras primas de Lascaux, na França (1.940), e inúmeras “galerias” na África do Sul. Picasso afirmou que “definitivamente nada aprendemos ao longo dos tempos” – uma forma significativa de elogiar os talentos artísticos do passado. Todas estas reproduções apresentavam traços estilísticos similares, apesar de oriundas de comunidades distintas e completamente isoladas. O que levou ao desenvolvimento quase simultâneo destes estímulos criativos em tantos grupos geograficamente separados ainda é um completo mistério. Os pictogramas geométricos multicoloridos, os desenhos de animais da fauna local – como bisões, mamutes e antílopes – geralmente em momentos de quase-morte ou morte assim como as formas humanas ou zoomórficas, também nas mesmas situações moribundas, sugerem que os magos apenas reproduziam fielmente o que vislumbravam nos momentos mais intensos dos rituais a que se submetiam.
Infelizmente esta fase das pinturas rupestres também teve seu fim. Subitamente, por volta de 15.000 anos atrás, os artistas perderam a inspiração. Não se dedicavam mais às artes nas rochas úmidas do interior das cavernas. Como a razão deste fato também era um enigma, gerou o surgimento de muitas teorias visando explicar o que teria desencadeado esta “pane” na mente criativa. A mais coerente se referia à precariedade desta fase, que baseava a subsistência dos indivíduos na caça e na coleta. Assim, era de se esperar que os surtos criativos fossem interrompidos, pois as comunidades eram extremamente frágeis e desorganizadas a ponto de quase se extinguirem por completo várias vezes – estas crises poderiam ter levado ao nosso desaparecimento total, muito antes de termos cultivado o primeiro cereal ou domesticado qualquer animal.
Mas, a partir das escavações na Turquia, em 1.994, a luz surgiu em meio às trevas. Uma resposta científica começava a aflorar. A razão do ocaso dos cultos em cavernas se devia à busca por uma melhor elaboração dos rituais, que estavam se tornando mais complexos – e por isso deviam abandonar os limitados palcos das grutas . As telas de rochas com imagens bidimensionais já não satisfaziam o que a mente em expansão requeria em termos de exercício de linguagem simbólica. A partir de agora não seria mais a natureza quem forneceria as estruturas templárias necessárias aos serviços espiritualizados. O próprio homem passava a criar obras de engenharia direcionadas às causas dos mundos ocultos. E assim se fez: surgiu o primeiro templo da humanidade, a cerca de 50 km ao norte da atual fronteira turco-síria.

2- O TEMPLO DE GÖBLEKI TEPE

Em 1.963 um novo sítio arqueológico foi localizado no sudeste da Turquia. Em uma montanha de aspecto bizarro, ferramentas de sílex e alguns artefatos de ossos estavam depositados sob uma fina camada de solo. O valor deste achado foi completamente ignorado àquela época. Mas, a partir de 1.994, novos estudos desenvolvidos por arqueólogos do Instituto Arqueológico Alemão ( D.A.I.) e do Museu de Sanliurfa – a cidade turca a aproximadamente 15 km de distância - abalaram os alicerces de todo conhecimento relativo à evolução histórica da humanidade.
O que surgiu, a partir dos primeiros levantamentos, foi a mais extraordinária descoberta arqueológica dos últimos cinqüenta anos, ou talvez de todos os tempos.
A montanha enigmática foi criada artificialmente pelo homem, e mede agora aproximadamente 300 metros de diâmetro. Em seu interior se localiza um dos mais impressionantes tesouros arqueológicos jamais descobertos. Sua idade é um mistério, pois as escavações ainda não se encerraram. Dados preliminares indicam que o estrato mais profundo pesquisado até o momento data de 12.000 anos atrás, ou 7.000 a mais que Stonehenge, e 4.500 anos mais antigo em relação ao poderoso sítio de Çatal-Hüyüki, na Anatólia. Nesta fase ainda não existia a roda, nem o domínio das técnicas de cerâmica e muito menos tinha surgido a metalurgia do cobre, do bronze ou do ferro – tudo ali foi realizado com ferramentas toscas de sílex, de pedras e de ossos de animais. E o que mais intriga: a humanidade era basicamente constituída por grupos isolados e nômades de caçadores-coletores. As vilas, as cidades, ou qualquer outra forma de estrutura social mais elaborada ainda estavam por vir.
Foram desenterradas grandes estruturas circulares ou ovais constituídas de arranjos complexos de rochas, nitidamente com características de templos ritualísticos. Formadas por pilares ou monólitos de calcáreo com quatro metros de altura, são semelhantes aos santuários de pedras bem mais recentes encontrados na Europa e na Ásia – como Woodhenge e Nevali Çori. No meio dos círculos surge uma espécie de átrio, onde se posicionam duas rochas maiores, com mais de 5 metros. Os monólitos circundantes têm forma de T, e são unidos por uma espécie de muro de pedras menores empilhadas, que os envolvem pelo lado externo. Nas faces das rochas existem elaborados entalhes ou esculturas reproduzindo, em relevo, figuras diversas como leões, raposas, javalis, pássaros, garças, escorpiões, patos, formigas, e alguns insetos ainda não identificados. Os blocos centrais maiores tem entalhes de mãos, braços e pernas, mas não apresentam olhos, bocas ou mesmo faces – podem representar figuras antropomórficas assexuadas.
Outro fato que impressiona, além da idade dos monumentos, é que ainda não se descobriu tudo que se encontra sob a terra. Até a 12ª e última campanha, encerrada em outubro de 2.006, cerca de quatro destes círculos foram descobertos, totalizando apenas 40 rochas expostas. Porém, estudos geomagnéticos indicam que existem mais de 240 rochas sob o solo, ou 16 novos conjuntos circulares ainda intocados. Mais um sinal que indica a existência de muitos estratos incólumes são as rochas achadas nas pedreiras – que se posiciona a 1 km do centro do sítio - com cerca de 9 metros de comprimento. O detalhe é que não desenterraram nenhuma pedra deste tamanho nos círculos já expostos. Então, se conclui que nas camadas mais profundas ainda vão ser localizadas pedras deste porte, além de muitas outras surpresas.
Não existem evidências de habitações na área. Todas as estruturas encontradas são consideradas exclusivamente voltadas aos cultos – inequivocamente são templos.
Por volta de 8.000 anos atrás, a comunidade resolveu encerrar as atividades do imenso santuário. Propositadamente, Göbekli Tepe foi sistemática e cuidadosamente soterrado. A forma como a terra se posiciona entre as rochas não deixa dúvidas quanto a isso. A razão desta medida radical não está bem definida. Pode ser que o aumento demasiado da comunidade levou à impossibilidade de sustentação das pessoas. Ou o crescimento das cidades, somado à multiplicação das vertentes religiosas, esvaziou o culto ali praticado.

3-CULTO ANCESTRAL

O santuário certamente seguia as mesmas tradições ritualísticas iniciadas no Paleolítico, pelas tribos errantes de caçadores. Só que agora a liturgia e o trabalho com os diversos elementos simbólicos arquetípicos se mostravam mais elaborado. Durante a noite, sob a luz e o calor de tochas, os relevos dos animais entalhados se destacam de maneira impressionante. Parecem adquirir vida própria, com o tremular das chamas. Os cultos praticados antigamente nas cavernas tomavam força entre as imensas rochas, com muito mais energia simbólica e maior capacidade de proporcionar os efeitos esperados pelas meditações profundas.
Toda estrutura seria dedicada a uma espécie de culto aos antepassados? Provavelmente sim, dizem os especialistas, apesar de não terem sido achados túmulos ou covas no interior do sítio. Existem estátuas em pedra representando figuras humanas, mas não deuses. Como tais alegorias têm braços e pernas, mas não cabeças, devem representar trabalhadores.
A idéia de culto ao mundo transcendental dos espíritos se justifica considerando a própria história da religiosidade. É sabido que os serviços articulados dedicados exclusivamente às divindades tiveram início entre os Sumérios, milênios depois, em meio a grandes palácios na Mesopotâmia.
4-A AGRICULTURA E A GÊNESE DA CIVILIZAÇÃO

Quando Göbekli Tepe foi construído ainda não havia ocorrido a chamada Revolução Neolítica, que trouxe o domínio das técnicas agrícolas e de domesticação de animais, datada de 10.000 anos atrás.Este fenômeno agrícola é considerado o marco inicial do desenvolvimento humano, pois a partir dele o homem passou a se fixar nos sítios produtivos e assim pôde estruturar as primeiras comunidades organizadas.
Então, surge a pergunta mais enigmática: como os homens se organizaram, há 12.000 anos ou mais, com o objetivo de erigir um complexo santuário? Por isso este achado arqueológico se reveste de tanta relevância - simplesmente trouxe um dos mais extraordinários paradoxos histórico-arqueológicos à luz da ciência. Antes a Arqueologia supunha que as comunidades errantes, semi-nômades e sempre a beira da extinção, que eram a forma celular de organização social da época, não seriam capazes de unir forças e valores capazes de erigir estruturas arquitetônicas de grande porte. Este conceito de fragilidade dos grupos de caçadores-coletores teve que ser revisto. Na realidade, tinham um grande potencial de estruturação hierárquica e social, que possibilitava a canalização de recursos para obras monumentais.
Se não bastasse este novo paradigma revolucionário, o mais impressionante ainda estava para ser descoberto. O local exato da explosão criativa do Neolítico, o lócus onde um visionário semeou o primeiro grão, era exatamente o sítio de Göbleki Tepe. Exames de DNA em diversas amostras de trigo atualmente em uso no mundo trouxeram uma informação espantosa. A variante selvagem de trigo existente próxima ao templo, que brota na montanha de Karaca Dag (distante 32 km) deu origem a praticamente todas as formas de trigo comerciais consumidas pela humanidade. Portanto, foi ali que os primeiros plantadores semearam a terra, inaugurando a fase da agricultura.
Sobre a domesticação de animais, acredita-se que os primeiro porcos selvagens criados especificamente para abate também surgiram nos arredores de Göbekli Tepe.
Analisando todos estes dados, fica claro que só após surgirem os templos – e mais especificamente este no sul da Turquia - foi possível ao homem dar o grande salto evolucionário que geraria toda a arquitetura social moderna. Os primeiros rituais estilizados, a eclosão do pensamento simbólico e a estruturação das idéias elementares sobre transcendência foram, simplesmente, os elementos desencadeadores deste fenômeno criativo global.

5-CONCLUSÃO
Com seus trabalhos ritualísticos a plena força e vigor, o templo de Göbekli Tepe alterou definitivamente a hedonística paisagem e o estilo de vida dos seres humanos. A passagem do estágio da caça-e-coleta, para a fase do trabalho pesado na terra, foi um episódio tão significativo em nossa história que deu origem a uma vasta mitologia – como o mito da “queda”, ou da expulsão do paraíso - que se apresenta em várias culturas antigas. O homem abandonou a fase da inocência e da servidão à natureza, por sua livre vontade, e com espírito indômito se aventurou em busca do verdadeiro saber e do domínio de sua realidade. A ingestão do fruto proibido da “árvore do conhecimento” pode ser a metáfora da criação do templo primordial.
Por isso os mistérios das antigas tradições despertam uma imensa atração aos iniciados. Este sentimento, que nos motiva a persistir na manutenção justa e perfeita dos ensinamentos dos magos ancestrais que atravessaram gerações, foi o mesmo que levou os primeiros pensadores a erigirem seu templo primaz e, assim, possibilitar em seguida a criação de tudo que temos a nossa volta - a chamada sociedade humana.
Estas maravilhosas descobertas nos remetem a um patamar superior na infinita escada rumo ao pleno conhecimento. Nesta nova perspectiva vislumbramos a certeza de que, no futuro, os templos continuarão a ter a mesma importância e valor que já demonstraram no passado, contribuindo eternamente para a evolução da humanidade.

6-Referências:
6.1-Akkermans, Peter “The Archeology of Syria: from complex hunter-gattereds to early urban societies (16000-300 BC)”, Editora Cambridge University Press, 2004;
6.2-Barker, Graene “The agricultural revolution in prehistory: why did foragers become farmers ”, Editora Wiley-Blackwell, 2004;
6.3-Corio, David “Megaliths”,Editora Random House UK, 2003;
6.4-Pires, Carlos A C, “Origens – Em Busca do Primeiro Maçom” Revista Maçônica “A Verdade”, Editada pela Glesp, Edição 461, Julho Agosto 2007;
6.5-Spivey, Nigel “How art made the world”, Editora Basic Books, 2006.
6.6-Wenke, Robert J “Patterns in Prehistory: humankind´s first three million years”, Editora Oxford University Press, 2006;
6.7-Site maçônico na Internet: http://www.maconariabrasil.wordpress.com/

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

História da Maç Jauense

HISTÓRIA DA MAÇONARIA JAUENSE
por Carlos Alberto Carvalho Pires

1-INTRODUÇÃO (considerações sobre a Ordem Maçônica)
A Maçonaria é uma instituição muito antiga, cujas origens se perdem ao longo da História, mas que tem a data de 24 de Junho de 1.717 como sendo o o marco inicial de sua existência formal. Tal sociedade, composta exclusivamente por homens por uma questão de tradição histórica, aceita pessoas de todas as etnias, nacionalidades e religiões. Os cidadãos, para serem convidados a participar desta fraternidade, precisam apresentar boa reputação moral, cívica, social e familiar. São aceitos através de um ritual conhecido como iniciação - uma cerimônia litúrgica comum a várias organizações filosóficas. Nas chamadas Lojas Maçônicas utilizam-se alegorias e símbolos que possibilitam a realização dos trabalhos de meditação e estudos, sempre voltados para o aprimoramento da humanidade.
São valores essenciais dos maçons espalhados pela Terra o respeito à Deus, à patria, à família e às pessoas em geral. O exercício da tolerância deve ser prerrogativa inquestionável de todos no convívio social. A livre investigação da verdade, amparada pelo conhecimento das antigas tradições místicas criadas ao longo dos tempos, juntamente com a evolução do conhecimento obtido pelos estudos das ciências, da filosofia e artes, é também uma das preocupacões dos membros ativos, que lutam diuturnamente pela preservação da mais justa liberdade, igualdade e fraternidade entre os povos e entre os indivíduos.
Todos maçons devem obedecer às leis democráticas do país, combater legitimamente toda forma de fanatismo, obscurantismo ou qualquer outra situação que cause danos aos valores fundamentais da humanidade, e sempre praticar a filantropia de maneira discreta, considerando também toda forma de trabalho lícito e digno como dever primordial do cidadão.

2- INÍCIO DOS TRABALHOS
O Oriente de Jaú, estado de São Paulo, Brasil, necessitava ser abrilhantado pelo verdadeiro ideal maçônico para atingir todas as glórias emanadas pelo espírito fraternal de Hiram. Por volta do final do ano de 1.986 alguns poderosos Irmãos, que estavam adormecidos, imbuídos por esta preocupação justa e perfeita, resolveram retornar aos trabalhos místicos de reconstrução do Templo de Salomão a plena força e vigor. Considerando a importância e as potencialidades da cidade e região, e a qualidade pessoal, profissional e humanitária de tantos cidadãos dispostos a se dedicarem às mais nobres causas, estava plenamente justificado o surgimento de uma nova Loja que deveria florescer expandindo os limites dos ensinamentos por todo universo.
O grupo começou a se reunir para planejar como se concretizaria a idéia, sob a batuta do Irmão Manoel dos Santos. Destacam-se nesta fase inicial o idealismo e perseverança dos Irmãos Manuel Sebastião Lima, Luiz Umberto de Pádua e Adelino Morelli. Para enriquecer a experiência maçônica optaram por se filiar à Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo.
Após algumas reuniões preliminares, em 17 de Dezembro de 1.986 foi oficialmente fundada a Augusta e Respeitável Loja Simbólica Acácia de Jaú, assumindo o número 308, vinculada à Sereníssima Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo - GLESP, e praticando o Rito Escocês Antigo e Aceito.
O nome da Oficina foi uma homenagem à famosa planta nativa do Oriente Médio, conhecida também como sempre-viva. É um poderoso símbolo da força e vigor da vida, pois sobrevive às piores provações possíveis, como secas terríveis e geleiras dilacerantes. Mantém a vitalidade e o verde de suas folhas, nestas condições adversas, mesmo quando o Sol desaparece quase por completo ou quando, ao contrário, derrama seus raios com extremo rigor. Assim como a verdadeira Luz maçônica que nunca se apaga, esta magnífica maravilha da natureza representa a essência da ressurreição e da perenidade da existência.
As primeiras Sessões eram realizadas provisoriamente no Centro Cultural da Prefeitura de Jaú, sito à Rua Visconde do Rio Branco, 157. Considerando a experiência anterior dos Irmãos, o Rito Escocês Antigo e Aceito foi escolhido.

3- PRIMEIROS MEMBROS
Os membros fundadores foram, além dos já citados, os Irmãos Luiz Ângelo Bortolai, José Francisco Fernandes Rodrigues, Dorival Caetano Bergamini e Alvimar Rodrigues.
A diretoria provisória, empossada em 04 de Fevereiro de 1.987, foi constituída pelo Venerável Mestre Provisório Irmão Manoel dos Santos, 1º Vigilante Irmão Luiz Umberto de Pádua, 2º Vigilante Irmão Alvimar Rodrigues, Orador Irmão Manuel Sebastião Lima, Chanceler Irmão Luiz Ângelo Bortolai, Secretário Irmão Adelino Morelli e Tesoureiro Irmão José Francisco Fernandes Rodrigues.
A Carta Constitutiva Provisória, assinada pelo Sereníssimo Grão Mestre Orfeu Paraventi Sobrinho, foi emitida em 21 de Fevereiro de 1.987.
As Sessões Magnas eram realizados no Templo da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Fraternidade de Brotas, no oriente de Brotas-SP.
A primeira Iniciação ocorreu em 26 de Março de 1.988, sendo iniciados os Irmãos Batista de Oliveira Júnior, Francisco Carlos Escanhuela, Lucio João Sega e Manoel Martins de Oliveira Neto.
Em 06 de Setembro de 1.988 foi realizada a primeira eleição oficial, sendo eleito para Venerável Mestre o Irmão Manoel dos Santos. A instalação e posse ocorreu em 21 de Março de 1.989. A Diretoria se compunha dos seguintes Irmãos: Luiz Umberto de Pádua (1º Vigilante); José Francisco Fernandes Rodrigues (2º vigilante); Adelino Morelli (Orador); Francisco Escanhuela Fernandes (Tesoureiro); Luiz Ângelo Bortolai (Chanceler); Dorival Caetano Bergamini (Hospitaleiro); Alvimar Rodrigues (Porta-Estandarte); Batista de Oliveira Júnior (1º Diácono); Francisco Munhoz Diniz (2º Diácono); Raul Rizato Junior (Mestre de Cerimônias); Manoel Martins de Oliveira Neto (1º Experto) e Lúcio João Sega (Secretário).
No dia 23 de Junho de 1.989 foi recebida a Carta Constitutiva Definitiva.
Em meados de 1.990 foi dado início à construção do novo Templo, sito à Avenida Dr Quinzinho 308, quase em frente ao Jaú Shopping.
A inauguração do Templo e sagração transcorreram em 04 de Fevereiro de 1.994, por ato do Sereníssimo Grão Mestre Salim Zugaib.
Recentemente foi realizada uma ampla reforma no salão de recepções do Templo, iniciada em dezembro de 2.007 e finalizada em Abril de 2.008.

4- FILANTROPIA ACACIANA
Os Irmãos da A.R.L.S. Acácia de Jaú sempre se preocuparam em colocar em prática os ideais maçônicos mais legítimos, notadamente em relação ao exercício pleno, efetivo e altruístico da filantropia.
Importante ressaltar que a Loja Acácia tem a rara vocação de empreender iniciativas filantrópicas em conjunto, em nome de todos IIR – sem exceções. Não se tratam de ações isoladas de um ou outro IR, ou mesmo de um pequeno grupo da oficina. Toda Loja aprova e se empenha, em conjunto, em expressar na prática o verdadeiro espírito da caridade, tão propalado mas tão pouco exercido. Exemplo disso foi a assunção plena da Presidência e Diretorias do Abrigo São Lourenço, desde 2.006. O Ir Pedro Aparecido Lopes Tótene foi eleito presidente, e todas as diretorias se constituíram por IIR regulares do quadro. Além disso, os 50 IIR são associados da entidade, com direito a voto e com a obrigação de participar das atividades rotineiras relacionadas à manutenção e preservação do bem-estar dos 60 idosos que dependem deste trabalho.
Outra iniciativa em conjunto é o apoio material e operacional à Casa da Sopa do Bairro Santo Ivo. Nesta entidade são servidas refeições gratuitas à comunidade local, que é uma das mais carentes e necessitadas de toda cidade. São fornecidas mais de 80 refeições/dia. O Ir Paulo Toledo França Junior e cunhada Deise, além de outros bravos, se destacam na persecução de mais este maravilhoso exemplo da legítima filantropia.
Para manter estas e outras atividades, são necessários recursos financeiros. Os IIR contribuem, via mensalidades, para subsidiar estas obras, mas só isso não é suficiente. É preciso, então, desenvolver medidas que visem arrecadar fundos que são revertidos exclusivamente a estas obras sociais. Assim, desde 1.994 realizam anualmente um valoroso trabalho junto à Feira ExpoJaú, sempre no mês de Agosto, acompanhando as comemorações do aniversário da cidade, que reverte vultosos fundos para diversas instituições sociais. A Oficina possui um barracão de 500 m2 com toda estrutura de restaurante, incluindo banheiros, cozinha, etc, que é utilizado para a venda de espetos de carne e outras refeições ao público em geral. Este serviço já é tradicional na cidade. Toda arrecadação se destina, basicamente, ao Abrigo São Lourenço e à Casa da Sopa.
Alem deste trabalho durante a feira, em vários eventos realizados no Caiçara Clube, como Festa Junina, celebração dos campeonatos internos de futebol, e tantos outros, os Irmãos se fazem presentes. Nestes também o forte é a venda de espetos, cuja arrecadação é em prol da beneficência social.
Outro evento poderoso, de grande repercussão na região e que reflete com precisão o profundo espírito de solidariedade dos IIR é o “Porco no Rolete”. Em 2.008 a Loja Acácia comemora a realização da 15a edição desta festa, que é organizada por todo o quadro e que já é, a exemplo da venda de espetos, um marcante e aguardado evento que faz parte do calendário social da cidade. No estilo jantar dançante, mais de 800 pessoas se reúnem no salão de eventos do Caiçara Clube de Jaú, com show ao vivo de bandas conceituadas da região, para degustar cerca de 15 porcos assados em grandes churrasqueiras. Como sempre, a renda integral vai para a manutenção das entidades sociais assistidas pela Oficina.

5- EXC LOJA DE PERFEIÇÃO
Em 07 de Novembro de 2.007 foi constituída, no Templo da gloriosa Loja Acácia, a Excelsa Loja de Perfeição Manoel Sebastião Lima, sob jurisdição do Supremo Conselho do Grau 33 da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, tendo como presidente o Irmão Antônio Carlos de Oliveira, 33′, 1º Vigilante Luiz Umberto de Pádua, 14′, 2º Vigilante Pedro Aparecido Lopes Tótene, 33′, e Secretário o querido Irmão Júlio de Arrais Feitoza Neto, 33′, idealizador e mentor espiritual desta magnífica empreita. O nome desta poderosa loja é uma justa homenagem ao saudoso Irmão Manoel Sebastião Lima, 33′, um dos fundadores da Loja Acácia e grande exemplo de dedicação e amor à nossa ordem.

6- CONCLUSÃO
A A.R.L.S. Acácia de Jaú número 308, contando atualmente com 50 membros, se destaca pelas iniciativas filantrópicas que desenvolve em conjunto, acionando todos os IIR do quadro, sem exceções. Esta é a verdadeira obra maçônica, sempre pautada pela harmonia e mais sincera fraternidade entre todos, que justifica plenamente a existência de nossas oficinas. Que a Luz e a sabedoria emanada das mais justas tradições ancestrais continuem orientando os rumos de tão significativa oficina, sempre com a proteção e glória do G.A.D.U.

7- REFERÊNCIAS
7.1- Documentos da Secretaria da A.R.L.S. Acácia de Jaú;
7.2-Informações pessoais prestadas pelo Ir Antônio Fernando Reginato;
7.3-Informações prestadas pelo Ir Júlio de Arrais Feitosa Neto, atual V.M.
e Secretário de Honra da Oficina.

Autor: Carlos Alberto Carvalho Pires, M:.M:.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Vigário Bartolomeu, o Padre Maçom

por Carlos Alberto Carvalho Pires

ENTRE A CRUZ E A LOJA!
A SAGA DO VIGÁRIO BARTOLOMEU

“Há instantes em que os homens são senhores de seu destino.” W. Shakespeare.

O devotado padre católico chamado Bartolomeu da Rocha Fagundes, nosso querido e inesquecível Irmão, sacrificou sua carreira eclesiástica por ser rigorosamente fiel ao juramento sagrado prestado durante a Iniciação. Sua lealdade e retidão estavam acima de qualquer interesse profano, mesmo quando sua vocação de sacerdote ficou sob risco de extinção, por determinação de seus superiores. Todo este drama, que se iniciou formalmente em meados do século XVIII, converteu-se em um assunto polêmico, intrincado e, infelizmente, muito mal compreendido, até os dias atuais. Trata-se, certamente, de uma rara demonstração de inequívoco amor à Maçonaria, e do mais profundo respeito aos nossos sagrados princípios.
O episódio vivenciado pelo Vigário Bartolomeu, ocorrido durante a chamada “Questão Religiosa” (1.872 a 1.875) - uma das poderosas circunstâncias que abalaram as colunas do Império - nos mostra um legítimo exemplo de grande Maçom. Fazendo honrar sua palavra mesmo nas piores adversidades, sua postura, na opinião de muitos, comprova indubitavelmente que existe total compatibilidade entre o papel oficial de religioso e de maçom regular, considerando o aspecto ético e filosófico da situação. Para outros, trata-se de um insubordinado que abandonou a fé e o Vaticano.
A lembrança de sua vida e a bravura de suas atitudes nos auxiliará, como um maravilhoso legado histórico, a entender e desmistificar um dos grandes tabus que assola as almas de muitos fiéis: é possível um religioso, ou mesmo um fiel, integrar o quadro de obreiros regulares de nossa Fraternidade?

1- O CONCEITO DE RELIGIÃO

Religião é um termo derivado do latim religio, que significa na tradição antiga algo como manifestar um comportamento rígido, formal e pautado pela precisão. Assim era o seu sentido no mundo pré-cristão, notadamente na Grécia e em Roma.
Em 45 d.C., na obra De Natura Deorum, Cícero considerava o termo religião uma alusão ao ato de reler ou estudar de novo alguma coisa. Explicava, então, que os religiosos eram aqueles que pretendiam uma releitura das escrituras e dos ensinamentos primordiais que trariam luz sobre os fenômenos inexplicáveis.
Agostinho de Hipona, que viveu no século IV d.C. dizia que a religião seria a vontade de todos de reeleger a Divindade como centro do universo, uma vez que a humanidade se desligou de Deus. No livro A Cidade de Deus considera a palavra religere como sendo a raiz etimológica de religião.
Nos anos 400 d.C. Macróbio afirmava que religio seria uma forma de se cultuar as relíquias do passado, ou relinquere.
No Hinduísmo não se utiliza o termo religião. Seus sacerdotes, na Antigüidade, usavam a palavra rita. Depois passaram a expressar a idéia de lei divina e perene como Dharma, denominação também comum no Budismo, criado em 500 a.C.
Acredita-se, atualmente, que o vocábulo deriva de duas origens distintas. Relegere se refere à idéia de reler ou revisar os conceitos, tradições, ritos, e princípios antigos adaptando-os às novas eras e necessidades. E Religare seria a vontade de religar algo ou alguém a outros, ou de reunir as pessoas à Divindade.
A partir da hegemonia tradição Judaico-Cristã no ocidente, religião passou a ser considerada como o conjunto de crenças, rituais, princípios e práticas diversas que buscam exatamente o contato da humanidade com Jeovah-Deus, que habitaria o mundo sobrenatural ou intangível. Esta interação seria possível através da chamada revelação ou transcendência, que todos os adeptos consideram como realidades concretas.
Adentrando a esfera dos estudos da psique humana, chegamos a uma ponderação interessante. Religião seria uma das maneiras de se tentar explicar todos os mistérios que cercam nossa existência, ou seja, tudo aquilo que a nós é incompreensível. Esta bagagem, que foge à razão esclarecida ou à compreensão lógica da mente humana, pertence ao campo do Sublime - como o funcionamento do universo, a origem e sentido da vida, o que ocorre depois da morte, e tantos outros fenômenos que angustiam nossa alma desde o princípio dos tempos. Para explicar esta zona de incertezas, criaram-se os sistemas religiosos primordiais, que utilizam uma variada gama de conceitos dogmáticos baseados apenas na fé. Tais mecanismos impõem uma normatização destas possibilidades, regrando todos os fenômenos de acordo com as ditas “verdades reveladas”. Estabelecem, assim, a dominação espiritual nesta área inacessível e satisfazem parte de nossa mais profunda angústia: a eterna busca pelo desconhecido, pelo além, pela palavra ou objeto perdido, que nunca serão acessados.
Tais sistemas, para alcançar seus objetivos, necessitam de ferramentas poderosas, que forneçam a chave que conecta o profano ao sagrado. Criam-se, então, os ritos, os mitos, as lendas, a liturgia e toda forma de explicação transcendental, geralmente formuladas pelos grandes “profetas”. Assim, solucionam os enigmas e os mais angustiantes mistérios e satisfazem a ânsia pelo entendimento deste campo imponderável, apesar de não possuírem qualquer fundamentação minimamente racional ou científica.
O fenômeno religioso, portanto, se origina de um tronco único, de uma única característica humana - a necessidade elementar de elaborar as mais terríveis angústias que assolam nossas almas. Concluímos que, por extensão, todas as religiões também possuem a mesma origem. Todas são subdivisões da mesma filosofia, apesar das aparentes disparidades que percebemos ao analisá-las superficialmente, notadamente em relação à liturgia e ritualística. O pensamento místico original ditou os princípios fundamentais que nortearam a conduta humana na alvorada da civilização, muito antes do surgimento das cidades, dos reinos e dos códigos escritos.

2- A IGREJA CATÓLICA

O surgimento e expansão da Igreja Católica se mescla com a própria saga do Cristianismo. O estudo deste fascinante capítulo da história da Humanidade nos mostra como se formou o arcabouço psicológico das ideologias surgidas posteriormente, todas marcadamente influenciadas pelas idéias de Platão e Paulo – os verdadeiros arquitetos da construção psico-social do ocidente.
Analisando o início da história da Igreja - o período relativamente esquecido e considerado de pouco valor por parte de muitos estudiosos - podemos entender como esta pequena seita, que começou de maneira inexpressiva, obteve tamanho crescimento nos últimos 2.000 anos. As estratégias desenvolvidas pelos primeiros cristãos neste período de grandes embates foram um sucesso e continuam em vigência na atualidade. Antes usadas para estabelecer com convicção as Colunas de Pedro, agora se voltam à sua manutenção e ao incremento do número de fiéis. A primeira fase é conhecida como Apostólica, pois conta com a atuação direta dos apóstolos. Em seguida temos a chamada Patrística, marcada pelo estabelecimento das bases ideológicas e pelas políticas visando garantir o crescimento da nova fé.
Os considerados “Pais da Igreja” trabalhavam com afinco. Do século II ao IV teceram os primórdios do pensamento eclesiástico e da teologia católica, que depois seria chamada de Filosofia Cristã por Santo Agostinho. Nesta fase destacam-se Clemente de Roma, Marcião, Policarpo, Santo Ambrósio, Irineu de Lião, Tertuliano, Orígenes, e Santo Ignácio de Antioquia – o primeiro a chamar de católica a nova igreja que emergia, utilizando um termo derivado do grego que significa “universal”.
Nos séculos XII e XIII a doutrina cristã teve sua época áurea, com reunião de diversos concílios, fundação de universidades (de Paris, Oxford, Bologna e Salamanca) e das ordens religiosas (Franciscanos, Dominicanos, Mercedários e Cistercienses). Surge a Escolástica. A figura de São Tomás de Aquino se destaca. Os decretos de Gregório IX e ermitões de Santo Agostinho criam grande impacto. É o tempo das Cruzadas e dos Cavaleiros Hospitalários, além do surgimento dos Templários (1.118). Com o fim das Cruzadas se iniciam as Missões. A arte sacra medieval promove a construção das catedrais, e as peregrinações ao Santo Sepulcro e aos túmulos sagrados de Pedro e Paulo se efetivam. A Inquisição se estabelece, após a Cruzada contra os Cátaros, e as táticas de conversão se exacerbam. Tudo convergia para Roma, que dominava a vida e a morte de todos no auge da Idade Média.
A partir do século XV vários eventos iriam influenciar o rumo das políticas eclesiásticas. O advento da Imprensa por Johan Gutemberg em 1.455 e a conseqüente distribuição de Bíblias aos fiéis, além da queda de Constantinopla em 29 de Maio de 1.453 favoreceram a eclosão da Reforma Protestante, deflagradas por Martinho Lutero (1.520) e Calvino (1.534). A Igreja exigia, para a salvação dos fiéis, a obediência a diversos rituais, penitências, orações aos santos e eventualmente o pagamento de indulgências. Henrique VIII, proclamando a separação da Igreja Anglicana (Ato de Supremacia, em 1.534), a ascensão do Iluminismo (na segunda metade do século XVIII) com destaque para as figuras de John Locke, David Hume, e Adam Smith, e o surgimento da razão esclarecida incrementaram as preocupações da Igreja com o risco de uma dispersão em massa do “rebanho”. Neste mesmo século desponta em Londres o surgimento da Grande Loja Unida da Inglaterra, fortemente influenciada pela Sociedade Real criada em meados do século XVII.

3-IGREJA x MAÇONARIA

A história das relações entre a Igreja Católica e a Maçonaria, de acordo com a versão que considera nossa origem nas guildas medievais de construtores, apresenta uma fase inicial de grande harmonia entre os grupos. Tais corporações de ofício eram fortemente ligadas à cúria romana e às dioceses regionais. Esta possível simbiose serena e produtiva é um dos fatores que desqualifica, na opinião de muitos historiadores, a própria idéia de gênese da Sublime Ordem nos canteiros dos pedreiros medievais. De qualquer modo, a partir de 24 de Junho de 1.717, quando as Colunas de Hiram se sobressaíram e ganharam notoriedade pública, nossa relação formal com a cátedra de São Pedro se inicia.
Poucos temas, nestes dois mil anos de existência da Santa Sé, estimularam a elaboração de tantas peças formais por parte da alta cúpula como a famigerada “seita” maçônica. Até 1.980 existem registrados mais de 380 documentos tratando explicitamente deste assunto. Este número não engloba as inúmeras declarações das Conferências Episcopais e dos Bispos espalhados por todo o mundo, e outras manifestações de menor abrangência.
No ano de 1.738, apenas 21 anos após o surgimento da Grande Loja da Inglaterra, a pena papal já começava a atuar com vigor. Em 28 de Abril o Papa Clemente XII, eleito em 1.730 e completamente cego a partir de 1.732, emite um decreto para ser obedecido em todo universo católico. A bula matter da Igreja contra a Maçonaria, “In Eminenti Apostolatus Specula”, condenava de forma visceral nossa Ordem e já instituía a pena de excomunhão aos rebeldes. Fundamentando seu veredicto, Clemente afirmava que “não podia aceitar o recurso ao segredo e ao juramento existente nas Lojas Maçônicas, pois podiam sustentar doutrinas heréticas e planos contrários à paz pública e ao bem da Igreja, nem o relativismo filosófico-religioso, que parecia resultar do fato se reunir homens de diversas religiões”. E ainda havia “outros justos e razoáveis motivos por nós conhecidos”. Quais seriam estes motivos? Isso ele não respondeu, por estar muito doente desde o início do pontificado, apresentando estado terminal desde 1.737. Faleceu em 1.740, sem explicar melhor esta bula.
O Papa Leão XII afirmava na bula “Quo Graviola”, de 13 de Março de 1.825, que as entidades consideradas secretas conspiravam contra a Santa Igreja e também pela instabilidade social, indo contra os poderes seculares. Estas conjecturas foram ratificadas por Pio VIII em 24 de Maio de 1.829, na bula “Traditi Humilitatis”, por Gregório XVI, na encíclica “Mirari Vos”, de 15 de Agosto de 1.832, e também por Pio IX em 9 de Novembro de 1.846, na bula “Qui Pluribus”.
Em 1.864 Pio IX lançou a encíclica “Quanta Cura”. Em seu apêndice “Syllabus Errors” se determinava que todos os maçons fossem excluídos da Igreja Católica. Esta norma se insere no contexto da unificação italiana, francesa e alemã, que trariam pesados prejuízos à Santa Sé. Na Itália, por exemplo, a maior parte das terras papais foi confiscada pela coroa. O rei Carlos Alberto, de Piemonte-Sardenha, apoiou a idéia de Mazini e Garibaldi em relação à unificação de toda península, derrotada pela Áustria em 1.848. O rei seria Victor Emanuel II, seu filho, que apoiava a Maçonaria Carbonária. Tais fatos desembocariam na chamada “Questão Romana”, quando o imenso confisco agrário se efetivou, esvaziando os cofres do Vaticano.
No ano de 1.884, a mais terrível e específica peça contra nossa Ordem foi publicada. O Papa Leão XIII, na bula “Humanus Genus”, de 20 de Abril, afirma que Maçonaria e Igreja seriam como “dois reinos em guerra”. Diz que a finalidade daquela seria destruir todo sistema religioso e político do mundo substituindo-a por uma “nova ordem”. Critica o que chama de naturalismo, que considera o conhecimento da natureza e a prática da razão esclarecida como os elementos essenciais que guiam o mundo.
Bento XV, eleito Papa em 1.914, promulgou o ‘Codex Juris Canonici’ em 27 de Maio de 1.917. O chamado primeiro Código Canônico – a compilação de toda legislação específica da Igreja Católica Romana existente até então - tornou todas as outras publicações ‘jus vetus’. Até então o corpo de leis do Vaticano era diversificado, oriundo de várias fontes, e de difícil consulta. Organizar todo este material era urgente e necessário frente aos novos tempos. A pressão por esta sistematização vinha desde o Concílio Vaticano I (1.869 a 1.870). Neste documento foram enumerados 2.414 cânones. Vários se referem à Maçonaria e aos maçons.
Com o passar do tempo, e com a iniciação em massa de muitos católicos – incluindo membros da hierarquia da Igreja – surgiram dúvidas quanto à aplicabilidade da pena de excomunhão prevista no Código Canônico. Muitos bispos encaminharam pedidos de orientação à Cúria, sobre como tratar esta questão. Um comunicado formal da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, emitido em 20 de Abril de 1.949, esclarecia a situação. Motivado por um questionamento enviado pelo bispo de Trento, o a posição oficial em relação à Maçonaria se confirmava: persista a intolerância plena e irrestrita aos que a ela se filiarem.
Com a promulgação do novo Código Canônico em 25 de Janeiro de 1.983, por Sua Santidade o Papa João Paulo II, tudo parecia diferente. A denominação expressa do nome da Ordem que surgia no cânone 2.335 do antigo texto de 1.917 havia sido suprimida na nova versão. O cânone 1.374, que entrou em vigor em 27 de Novembro de 1.983, se refere às ‘associações que maquinam contra a Igreja’, não trazendo o vocábulo ‘Maçonaria’, anteriormente existente. Parecia o fim da terrível condenação existente há 250 anos. Como a interpretação deste cânone trazia dúvidas, havia a necessidade de melhorar o entendimento da norma.
Uma declaração de autoria do Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Alois Ratzinger, com anuência plena do Papa, foi publicada no órgão oficial de divulgação, o L’Observatore Romano. Com título ‘Declaração sobre as Associações Maçônicas’. Reafirma que permanece inalterado o parecer negativo da Igreja em relação às associações maçônicas. Os fiéis ainda estão proibidos de se filiarem à Ordem. Aqueles que insistirem nesta situação se encontram em estado de pecado grave, sem autorização para se aproximar da sagrada comunhão.
A posição da Santa Sé não variou desde a fundamental bula de 1.738. Como o Papa atual, eleito em 19 de Abril de 2.005, foi o autor do último comunicado oficial sobre o assunto, o status quo tende a ser mantido, a curto e médio prazo.

4- A “QUESTÃO RELIGIOSA”

Na Constituição de 1.824 o imperador se proclamava líder absoluto da Igreja no Brasil. O poder do Bispo de Roma estava subjugado à vontade real. Os atos papais, como bulas, encíclicas, cartas, etc., só tinham validade “jurídica” em nosso território se aprovados pelo Estado, de acordo com o instituto expresso na carta magna chamado Beneplácito. E através do Padroado apenas o imperador podia nomear os sacerdotes e criar igrejas. Esta situação desfavorável à Santa Sé levaria o clero a lutar pelo fim do regime, apoiando os ideais republicanos que se fortaleciam rapidamente .
Por questões pragmáticas as relações entre a coroa brasileira e a Cúria Romana se mantiveram em níveis de tolerabilidade e convivência pacífica, por aproximadamente 40 anos. A ninguém interessava a criação de conflitos. Toda normatização advinda de Roma era protocolarmente aceita por estas terras.
O primeiro movimento pela retomada do poder eclesiástico ocorreu em 1.848. Pio IX assumiu a cátedra de Pedro e criticou ferozmente as chamadas liberalidades modernas, rogando pela supremacia dos “céus” sobre o poder secular.
No ano de 1.864 as investidas foram mais agudas. Como vimos anteriormente, o Papa Pio IX lança a encíclica “Quanta Cura” com seu famoso apêndice, o “Syllabus Errors”, que seria conhecida apenas por “Bula Syllabus” . Suas oitenta proposições condenaram explicitamente, entre outras coisas, o Protestantismo, a Maçonaria, a liberdade de consciência, a liberdade de culto, a separação entre a igreja e o estado, a educação leiga e, em geral, o progresso e a civilização moderna. Determinava também a intervenção em ordens leigas, se não seguissem expressamente as orientações papais, e proibia a realização de atos litúrgicos da Igreja em celebrações maçônicas. Os clérigos estavam impedidos de participar da Maçonaria. Este fato, no Brasil, era freqüente. Como tal norma não recebeu o placet de aprovação por Dom Pedro II, não possuía validade “jurídica” no país.
Apesar disso, tudo corria na mais harmônica normalidade nas terras de Cabral. Mas, em 3 de Março de 1.872, o primeiro sinal de crise entre Igreja e Maçonaria eclodiu. Nesta data o Padre Almeida Marins saudou a proposta da Lei do Ventre Livre feita pelo Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil e Presidente do Conselho de Ministros, Visconde do Rio Branco. O discurso foi na Loja Grande Oriente, e o Padre usou linguagem maçônica em seu pronunciamento. O Bispo do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria Lacerda, ao saber do fato, resolveu aplicar ipsis litteris o que determinava a Bula Syllabus. Ordenou que o Padre Marins abandonasse a Maçonaria e o suspendeu de todo serviço eclesiástico. O que seria um mero exercício canônico da autoridade administrativa eclesiástica tornar-se-ia uma grave questão nacional. Os maçons iniciaram uma violenta campanha contra os bispos, e a coroa ficou incomodada com a arrogância do cardeal em aplicar uma sanção sem respaldo do beneplácito.
Em meio a toda essa tensão, o Bispo de Olinda, Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, um jovem e rigoroso capucchino, também em obediência à bula Syllabus, mandou fechar todas as Irmandades e Ordens Terceiras que não quiseram excluir seus associados maçons. Tal atitude foi seguida pelo bispo de Belém do Pará, Dom Antônio de Macedo Costa. Aproveitaram para emanar suas opiniões sobre o poder estatal sobre a Santa Sé. Dom Vital, grande expoente da intelectualidade religiosa da época, declarou que o beneplácito imperial não passava de uma aberração, pois o recurso contra as decisões dos bispos configurava-se absurdo e herético. E Dom Macedo Costa foi mais rigoroso, dizendo que reconhecer no poder civil autoridade para dirigir as funções religiosas equivalia a uma apostasia.
Nesta mesma época Dom Vital impediu um padre, Monsenhor Pinto Campos, de realizar um casamento cujo noivo era maçom. No Pará dois outros padres também foram interditados. Entre os padres, alguns relutavam em seguir as ordens de seus superiores, como o popular padre Joaquim Francisco de Faria, de Olinda, cuja suspensão gerou cenas de vandalismo praticado nas igrejas por seus partidários.
As entidades punidas, que estavam acostumadas à autonomia, desobedeceram abertamente às determinações de exclusão dos maçons. E após Dom Vital ter lançado o interdito canônico sobre elas, tais instituições apelaram ao Imperador, alegando abuso de poder por parte do bispo. O Imperador acolheu o recurso das irmandades
Surgiu, então, a reação radical do governo, direcionada a estes dois Bispos. Neste momento a crise chegava ao seu ápice. Em 1874, o primeiro ministro Visconde do rio Branco pediu suas prisões imediatas e posterior condenações a quatro anos de reclusão com trabalhos forçados. O presidente do Supremo Tribunal de Justiça expediu mandado de prisão contra os dois bispos, dando-os como incursos no artigo 96 do Código Criminal. D. Vital e, pouco depois, D. Macedo receberam aviso oficial do ministro do Império, João Alfredo, como infratores das leis, pois o apelo das irmandades fundamentava-se no Decreto nº 1.911, de 28 de março de 1857. Dom Vital foi preso em janeiro e Dom Macedo em abril de 1874. Depois as penas foram amenizadas, para prisão simples. Em 1875, o duque de Caxias, que então era o primeiro ministro, concedeu ampla anistia, através do Decreto 5.993, de 17 de setembro, encerrando assim o conflito que se iniciara em 1872.
O Império se enfraqueceu. A prisão de dois baluartes da Igreja, independentemente do mérito jurídico, gerou um significativo afastamento entre o clero e o poder imperial. Na população comum a indignação foi geral, pois a maioria era muito devota e fiel. A separação definitiva entre Igreja e Estado estava iminente.

5- O VIGÁRIO BARTOLOMEU

Dentre as personalidades que protagonizaram este interessante capítulo de nossa história, que ao lado da “Questão Militar” e da “Questão Social ou Abolicionista” foram as grandes causas da derrocada do governo imperial, destaca-se a figura do Vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes.
Nascido em 8 de setembro de 1.815 em Vila-Flor, vilarejo do município de Canguaretama no Rio Grande do Norte, foi criado em Natal, pois sua família mudou-se muito cedo para a capital, devido aos negócios do pai. Este senhor, também chamado Bartolomeu, era Maçom regular. Membro da Loja “Sigilo Natalense”, tinha o nome simbólico de Talleyrand, e incentivava o filho a ler tudo que estava ao seu alcance. Sua mãe, Florência Gomes de Jesus Fagundes, o educava com grande rigor e disciplina. Estes fatores explicam o caráter íntegro, guerreiro e de bons costumes que viria a manifestar no futuro.
Após terminar o curso primário, matriculou-se no Seminário de Olinda, que era o grande centro de formação cultural e intelectual da época, naquela região. A ênfase nos ensinamentos com base humanística, ministrados nesta instituição, iriam influenciar suas idéias de maneira marcante ao longo de toda sua vida.
Aos 24 anos de idade, em 1.839, recebeu o sacramento da Ordenação, pelas mãos do Bispo de Olinda, Dom João da Purificação Marques Perdigão. A Diocese de Olinda englobava a província do Rio Grande do Norte neste período. Sagrou-se Vigário da Paróquia de Vila-Flor, chamada Nossa Senhora do Desterro , que depois passou a ser denominada Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação. Sua primeira missa foi celebrada em 06 de Janeiro, dia de Reis.
Era extremamente bem conceituado na comunidade, pelo seu espírito incansável de defesa dos menos favorecidos, além de sua capacidade ímpar de liderança na condução de inúmeras iniciativas filantrópicas. Ficou conhecido como um legítimo pastor de almas, na acepção mais sagrada e virtuosa do termo. Tinha marcante influência social e freqüentava todos os lares da cidade, orientando os fiéis nas questões mundanas e espirituais. Também atuava como professor e mestre, alfabetizando os mais humildes e trazendo cultura e informações em suas preleções. Como era um grande orador, agregava multidões. Suas falas se tornaram famosas e uma referência na sociedade local. Exercia atividade político-partidária, tendo ingressado no Partido Liberal, onde foi líder destacado.
Como conseqüência natural deste perfil, acabou se iniciando nos mistérios da Arte Real na Loja Simbólica “Conciliação”, da cidade de Recife. Em seguida se transferiu para a Loja Simbólica “Sigilo Natalense”, a mesma de seu pai, no oriente de Natal. Adotou o significativo apelido de Guilherme Tell. Rapidamente galgou os degraus da escada de Jacó, sendo nomeado 1º Vigilante em pouco tempo.
Em 1.867, com a fundação da Loja Simbólica “21 de Março”, foi eleito seu primeiro Venerável-Mestre. Foi seguidamente reconduzido ao cargo, por dez anos. Infelizmente passou ao Oriente Eterno em 2 de Novembro de 1.877, com apenas 62 anos de idade, em meio a uma profícua e reta carreira entre Colunas.
Os caminhos do obreiro e do religioso estavam em total harmonia, até se cruzarem com a bruta realidade das relações entre Estado e Igreja, no auge da “Questão Religiosa”. O Vigário Bartolomeu foi convocado à Olinda, com urgência. Viajando 300 km a cavalo, foi recebido pelo Bispo Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira que, educadamente, determinou que ele abandonasse imediatamente a Maçonaria. A sanção prevista na encíclica do Papa Pio IX, Quanta Pura, Syllabus Errors, seria aplicada de forma impiedosa no caso de desobediência. Como citado anteriormente, esta bula determinava, dentre outras medidas, que era proibida a filiação dos membros da hierarquia do clero à Sublime Ordem. Nosso Irmão, em presença de seu superior, que detinha imenso poder e prestígio, manifestou de forma inequívoca seu descontentamento com tal medida, e já adianta que dificilmente poderia cumprir este mandamento, uma vez que se baseava exclusivamente na materialidade das leis canônicas. Defendeu a compatibilidade entre as condutas cristã e maçônica, apesar das normas existentes. Em seguida, foi-se embora da mesma forma que tinha chegado.
Regressando à Natal, foi recebido como verdadeiro herói pelos Irmãos de sua Loja. Imediatamente presidiu uma memorável Sessão, fato que chegou ao conhecimento de Dom Vital, que ficou enfurecido. Interpretando esta atitude como uma terrível afronta às suas ordens, o Bispo ameaçava caçar os direitos eclesiásticos do “rebelde”, remetendo um ofício no qual manifestava o ultimato final. Neste documento exigia que, além de abandonar as Colunas de Salomão formalmente, deveria o obreiro divulgar este fato em toda imprensa local, através de nota oficial nos jornais.
A resposta do Vigário Bartolomeu veio através de uma carta, endereçada a Dom Vital. Com grande veemência e firmeza de opinião, tal documento, além de explicitar todo amor que um legítimo obreiro pode manifestar, deixava claro que nosso Irmão jamais abandonaria a Ordem Maçônica, estando disposto a pagar o preço por sua honrada postura.
Dom Vital, então, cumpriu as ameaças. O padre “rebelde” teve suas ordens e obrigações suspensas, apenas por ser ao mesmo tempo clérigo e Maçom, uma vez que se recusou terminantemente a abandonar as Colunas de Hiram.
Mesmo afastado das funções eclesiásticas, nosso Irmão manteve sua atuação social e filantrópica na comunidade. As pessoas continuavam respeitando e dignificando sua conduta reta e iluminada, mesmo sabendo que não se alinhava, administrativamente, à Santa Sé. Jamais foi considerado um pecador ou herege, como poderia se esperar em um caso desta natureza. Sua voz e sua alma continuaram brilhando no árido agreste.

6-CONCLUSÃO

Em termos essenciais, todo ser livre de pensamento, abençoado pela luz justa e perfeita da sabedoria, defende os mesmos princípios. Estes advém das culturas primordiais, dos tempos ancestrais, e da religião verdadeiramente universal, sendo independentes da vontade manifestada de um ou outro soberano – seja do poder secular ou religioso.
A origem conceitual de todas religiões e das organizações fraternas com base iniciática é rigorosamente a mesma. Todas são entidades que elaboram, aperfeiçoam, difundem e defendem as idéias criadas pelos verdadeiros pais da filosofia e religiosidade, que atuaram em um passado remoto, em eras perdidas no tempo. Estes sábios-profetas traçaram, com esquadro e compasso, a retidão de conduta, as normas não-escritas e a obrigatoriedade de respeito mútuo que todos devem manifestar. Isto ocorreu há muitos milênios - talvez milhões de anos - atrás. A partir destes conceitos seminais as estruturas ordenadas e gerenciais que administram a fé foram se cristalizando.Quando pensamos nos atos praticados a partir do século I, ou nos anos de 1.717 e 1.738, estamos nos referindo à época de surgimento das ordens , das estruturas burocráticas e das institucionalizações dos protagonistas de nossa história.
A partir deste raciocínio entendemos que para saber se estamos contrariando uma regra formal de uma entidade, basta consultar os regulamentos escritos que estejam em vigência. Mas, se pretendemos saber se contrariamos uma norma essencial, temos que buscar o sentido dos verdadeiros conceitos intangíveis para chegar a uma conclusão.
O Padre Bartolomeu descumpriu uma determinação da Igreja porque tinha certeza que agia de acordo com a verdadeira filosofia católica, emanada a partir dos fundadores da religião, não pelos desejos dos eventuais “gerentes”da fé.
Fica claro, analisando a história de vida de nosso padre-Irmão, que é perfeitamente possível a conciliação entre os papéis de religioso, seja qual for a vertente, e de obreiro da Arte Real. O fato de existir restrições “legais”, em determinados casos, não deve preocupar aqueles que tem a alma serena. Estas imposições, como vimos, se referem exclusivamente ao campo da materialidade dos regulamentos. Tais prerrogativas nada gerenciam em relação aos ideais advindos do conhecimento essencial, da linguagem do sagrado que se contrapõe ao profano, da luz que esfacela a ignorância.
Para honrar sua promessa formal de nunca trair a Maçonaria, respeitando piamente os princípios éticos e morais mais justos, nosso bravo pastor de almas sacrificou sua carreira e até mesmo uma vida inteira em nome de uma rara dignidade que só os verdadeiros iluminados podem demonstrar.

Referências:

1- Baigent, M & Leigh, R , “O Templo e a Loja”, Editora Madras, 2.006;
2- Benigno, I. “O Vigário Bartolomeu”, em Cadernos de Pesquisas Maçônicas 10, Editora Maçônica “A Trolha”, 1ª Edição, 1.995.
3- Benimelli, J. A. F., Caprille, G. “Maçonaria e Igreja Católica: Ontem, Hoje e Amanhã”, Editora Paulus , 4ª Edição, 1.981;
4- Campbell, J. “Máscaras de Deus – Mitologias Primitivas”, 7ª Edição, Editora Palas Athena, 2005;
5- Campbell, J. “O Poder do Mito”, 1ª Edição, Editora Palas Athena, 1990;
6- Código de Direito Canônico, Editora Loyola, 1ª Edição, 1.997;
7- Kloppenburg, D. B. “Igreja e Maçonaria: Conciliação Possível?”, editora Vozes, 5ª Edição , 2.000;
8- MacNulty W. K, “Maçonaria: uma Jornada por Meio do Ritual e Simbolismo”, Madras Editora, São Paulo, 2.006;
9- Robinson J.J., “Os Segredos Perdidos da Maçonaria”, Madras Editora, São Paulo , 2.005 ;
Na Internet:
www.vatican.va/holy_father